Neste artigo apresentamos um recorte da pesquisa realizada em nossa tese de doutoramento, onde analisamos a reconfiguração de sentidos da ordem do imaginário sob a ótica da midiatização. No que toca ao imaginário, neste recorte específico focamos no imaginário mítico, ou seja, em sentidos da ordem do mágico e do sobrenatural que, no que têm de imaginário, transbordam para além da concretude do mundo empírico. A partir dos apontamentos da epistemologia da midiatização, entendemos que mesmo esses sentidos ficam à mercê de reconfigurações quando materializados em dispositivos de mídia – no caso sob análise, jornais impressos. Equivale a dizer que, por força de processos que se estabelecem no transcurso do tempo e das mudanças sociais e culturais, e, também, pela interferência de outros agentes enunciadores, o sentido materializado reconfigura-se no ato interpretativo, desviando-se do que foi proposto pelo autor. Aqui, focaremos na reconfiguração do imaginário que pairava sobre uma cartomante, apresentada como testemunha nas investigações sobre o chamado Caso Kliemann, episódio policial verídico amplamente divulgado pela imprensa na década de 1960 no Rio Grande do Sul. Entendemos que a análise das narrativas jornalísticas da época dos fatos, na comparação com uma narrativa jornalística mais recente dos mesmos episódios, possibilita a observação de sentidos que, materializados nos jornais dos anos 1960, passaram por reconfigurações durante esse transcurso do tempo.
In this article we highlight part of the research carried out in our doctoral thesis, where we analyze the reconfiguration of meanings of the order of the imaginary from the perspective of mediatization. Regarding the imaginary, in this specific section we focus on the mythical imaginary, that is, on meanings of the magical and supernatural order that, insofar as they are imaginary, overflow beyond the concreteness of the empirical world. Based on the epistemology of mediatization, we understand that even thesemeanings are at the mercy of reconfigurations when materialized in media devices – in the case under analysis, printed newspapers. In other words, due to processes that are established over time and social and cultural changes, and also due to the interference of other enunciating agents, the materialized meanings are reconfigured in the interpretative act, deviating from what was originally proposed by the author. Here, we will focus on the reconfiguration of the imaginary around a fortune teller, presented as a witness in the investigations into the so-called Kliemann Case, a true crime episode widely publicized by the press in the 1960s in Rio Grande do Sul. We understand that the analysis of journalistic narratives from the time of the events, in comparison with a more recent journalistic narrative of the same events, makes it possible to observe how meanings materialized in newspapers from the 1960s underwent reconfigurations over time.