A literatura, por meio de sua expressão simbólica, descortina temas que comportam violência humana de natureza diversa. Assim, mediante pesquisa qualitativa-exploratória de viés bibliográfico, objetivamos analisar o conto intitulado Alma, de Itamar Vieira Junior, inserido na coletânea Doramar ou A Odisseia: histórias (2021), no intuito de verificar não só como a narradora-protagonista descreve sua condição de escrava em que vivia antes de ter armado contra a vida de seus senhores brancos como também o percurso fugitivo dessa mulher, de modo a destacar o processo de luta pela liberdade. Teoricamente, utilizamos estudos de autores como Evaristo (2005), Ribeiro (2016), Beauvoir (2016) e Kilomba (2008). Realizadas as análises, constatamos que a personagem se descreve, no primeiro momento, como uma mulher que vive à deriva do processo político e social porque se encontra presa aos “donos” de sua própria vida, ou seja, a seus senhores, estes sendo, inclusive, os responsáveis por maus-tratos e discursos de ódio, racistas, à escrava; no segundo momento, vislumbramos, por sua vez, uma personagem mais decidida quanto à vida que desejaria ter, sobretudo em virtude de sua vontade de ser livre, anseio que a motiva a planejar o envenenamento de seus próprios senhores, a fim de se libertar do espaço onde, por muito tempo, fora vítima da exacerbação de múltiplas violências.