Este trabalho objetiva analisar um aspecto fundamental da existência do fenômeno literário na antiguidade: a relação que se estabelece, para seu pleno funcionamento, entre oralidade e letramento. Para tanto, tomamos como base teórica os estudos na área de História da Leitura, desenvolvidos por Roger Chartier e outros, bem como o conceito de campo literário utilizado por Maingueneau (e retomado de Pierre Bourdieu) em sua explicação acerca dos fatores constituintes do contexto de uma obra literária. Com esse referencial teórico, buscamos compreender as variações espaço-temporais a que se submetem os ritos da produção, da recepção e da difusão do fenômeno literário, para, valendo-nos de poemas de Marco Valério Marcial, exemplificar em que medidas a forte relação entre oralidade e letramento, que perpassa o mundo antigo de maneira ampla, se faz presente no próprio ato de composição dessa poesia.
This work aims to analyze a fundamental aspect of the existence of the literary phenomenon in antiquity: the relation that is established, for its perfect functioning, between orality and literacy. To do that, we have taken as theoretical basis the studies in the area of History of reading, developed by Roger Chartier and others, as well as the concept of literary field used by Maingueneau (and recovered from Bourdieu) in his explanation about the constitutive factors of a literary work’s context. With this theoretical referential, we intend to understand the spatial and temporal variations to which the rites of production, reception, and circulation of the literary phenomenon are submitted, to, by using poems of Marcus Valerius Martial, exemplify in what sense the strong relation between orality and literacy, that passes through the ancient world in a wide manner, makes itself present in the very compositional act of this poetry.