A publicação das conferências de Michel Foucault no Collége de France, no final da década de 1970, proporcionou uma nova compreensão sobre desenvolvimentos cruciais em sua obra tardia, inclusive o retorno a uma análise do Estado e a introdução da biopolÃtica como um tema central. Segundo uma interpretação dominante, essas mudanças não acarretaram uma ruptura metodológica fundamental; o enfoque desenvolvido por Foucault em seu trabalho sobre conhecimento/poder foi simplesmente aplicado a novos objetos. O presente artigo argumenta que essa leitura – marcada pelo privilégio esmagador concedido a Vigiar e punir na literatura secundária – obscurece uma modificação importante no método e no estilo de diagnóstico de Foucault, ocorrida entre a introdução da biopolÃtica em 1976 (Em defesa da sociedade) e as conferências de 1978 (Segurança, território e população) e 1979 (Nascimento da biopolÃtica). A análise inicial de Foucault sobre a biopolÃtica foi formulada em afirmações supreendentemente baseadas nas épocas e totalizantes sobre as formas caracterÃsticas de poder na modernidade. Em contraste, as últimas conferências sugerem o que proponho chamar de uma análise “topológica†que examina os “padrões de correlação†em que elementos heterogêneos – técnicas, formas materiais, estruturas institucionais e tecnologias de poder – são configurados, bem como os rearranjos através dos quais esses padrões são transformados. Também indico como a atenção à dimensão topológica da análise de Foucault poderia mudar nossa compreensão de temas-chave em seus últimos trabalhos: a biopolÃtica, a análise do pensamento, e o conceito de governamentalidade.
The publication of Michel Foucault’s lectures at the Collège de France in the late 1970s has provided new insight into crucial developments in his late work, including the return to an analysis of the state and the introduction of biopolitics as a central theme. According to one dominant interpretation, these shifts did not entail a fundamental methodological break; the approach Foucault developed in his work on knowledge/power was simply applied to new objects. The present article argues that this reading – which is colored by the overwhelming privilege afforded to Discipline and punish in secondary literature – obscures an important modification in Foucault’s method and diagnostic style that occurred between the introduction of biopolitics in 1976 (in Society must be defended) and the lectures of 1978 (Security, territory, population) and 1979 (Birth of biopolitics). Foucault’s initial analysis of biopolitics was couched in surprisingly epochal and totalizing claims about the characteristic forms of power in modernity. The later lectures, by contrast, suggest what I propose to call a ‘topological’ analysis that examines the ‘patterns of correlation’ in which heterogeneous elements – techniques, material forms, institutional structures and technologies of power – are configured, as well as the redeployments through which these patterns are transformed. I also indicate how attention to the topological dimension of Foucault’s analysis might change our understanding of key themes in his late work: biopolitics, the analysis of thinking, and the concept of governmentality.