Relacionamos aqui dois aspectos fundamentais das intuições culturais sobre a passagem do tempo – a temporalidade cÃclica e a contÃnua – com a psicopatologia e a terapêutica médica, psicológica e religiosa dos estados de estresse pós-traumáticos.
Nas concepções culturais cÃclicas do tempo, vida e morte são indissociáveis do movimento eterno do cosmos. A severidade e a persistência do trauma mental não são diretamente proporcionais à magnitude da catástrofe, mas associadas à s caracterÃsticas imaginárias e aos papéis que representam na mente. A cultura moderna tende a produzir indivÃduos preparados para um mundo altamente complexo, sob pressão constante em um ritmo frenético. Quase todos os eventos devem ser antecipados, planejados ou controlados e os traços anancásticos de personalidade são bem aceitos pelas sociedades modernas. Todavia, face a eventos catastróficos, imprevisÃveis, quando nada resta a fazer, esses indivÃduos metódicos e organizados podem apresentar fragilidade e desespero.
Nas comunidades tradicionais as vÃtimas parecem capazes de suportar nÃveis muito altos de agressão ou sofrimento – em situações traumáticas – sem mostrar sinais proporcionais de estresse mental. Enquanto que nos estratos superiores das comunidades modernas um ato de violência, como um assalto ou um estupro, pode ter conseqüências muito sérias e duradouras, na prática diária, nos hospitais públicos, encontramos pessoas que sofreram eventos potencialmente traumáticos sem qualquer dos esperados efeitos devastadores na sua vida mental. Os rituais dissociativos periódicos podem ter algum papel na sua resiliência.