A tese de medicina defendida em 1822, em Paris, por Antoine-Laurent Bayle, intitulada “Pesquisas sobre as doenças mentaisâ€, constitui um momento de virada na história das concepções biológicas em psicopatologia. Apoiado sobre um método anátomo-clÃnico rigoroso, Bayle apresenta seis observações clÃnicas de pacientes com uma história crônica e progressiva de comportamento exaltado, ideias de grandeza, de poder e de ambição que se transformam ao final de algum tempo em delÃrios manÃacos com agitação psicomotora. Simultaneamente, vai-se instalando um quadro de paralisia progressiva de vários grupos musculares, chegando até à incapacidade fÃsica extrema. Na fase terminal, os pacientes apresentam uma condição tipicamente demencial e de profundo comprometimento corporal, que os conduz à morte. Ao exame cadavérico, Bayle constatou a presença sistemática de uma inflamação crônica das meninges cerebrais (aracnoidite crônica) à qual ele atribui o fundamento biológico dos sintomas observados. Dessa forma, Bayle realiza uma descrição clÃnica rigorosa de uma entidade psicopatológica tÃpica, de evolução crônica e progressiva e demonstra sua relação com uma lesão cerebral especÃfica e objetivamente demonstrável. Tal descoberta, inicialmente recebida com muitas reservas, constituiria posteriormente uma espécie de paradigma para a pesquisa e para o projeto teórico e terapêutico para a psiquiatria biológica que começava a se organizar na França ao longo do século XIX.