Um dos tópicos centrais da práxis psiquiátrica é o relativo à terapêutica, especialmente quando esta palavra é objeto de usos e abusos, tendo especial importância tratar de estabelecer o mais acuradamente possÃvel seu teor, ou seja, sua constituição firme e estável. Terapêutica, a partir de sua etimologia, designa uma atividade de preocupação e cuidados no contexto do amor e na manutenção de um determinado ordenamento. O mal estar esperançoso, a demanda e a aceitação, fazem dela uma tarefa compartilhada. Pode se nela distinguir dois momentos estruturais: um constitutivo, com busca de significações compartilhadas entre terapeuta e paciente e, outro, operativo, com o salmo, o fármaco e o acompanhamento.
O salmo evoca a proteção amorosa que não atua no somático e, sim, ao nÃvel interpessoal afetado pelo dano.
O pharmakon abarca não menos do que quatro significações: droga, tintura, escritura e objeto numinoso. Como droga, podemos notar suas virtudes ambivalentes: se, por um lado, pode lutar contra o mal em favor da vida, por outro, pode também provocar a morte. Como tintura, modifica a aparência, fazendo com que uma coisa pareça outra. Como escritura, favorece a lembrança, mas incita o esquecimento. Como objeto numinoso, pharmakos desempenha um papel expiatório.
Mas o salmo e a prescrição de um fármaco não são suficientes; para que a terapêutica seja eficaz, faz se necessário um acompanhamento.
São estes, pois, os eixos em torno dos quais se estrutura a terapêutica, fazendo dela mais do que um serviço destinado à cura, um caminho acompanhado de aprofundamento da existência.