Essa pesquisa reconhece no lúdico um rico espaço de aprendizagem para a
criança, uma vez que mobiliza fantasias da ordem do erótico e do agressivo e
faz delas alimento para a elaboração de um saber ao nÃvel da razão, pela via
da simbolização e da sublimação. Assim sendo, questiona-se como o lúdico
tem sido considerado e acolhido na instituição de educação infantil brasileira. O
objetivo dessa pesquisa é investigar como o lúdico é acolhido na prática
pedagógica do professor que atua na instituição de Educação Infantil. Foram
realizadas entrevistas com três professoras que trabalham em instituições de
educação infantil pública municipal de uma cidade do interior do Estado de São
Paulo, Brasil. As entrevistas foram analisadas à luz do referencial teórico
psicanalÃtico. As análises apontam que as professoras concebem o lúdico ora
como recreação ora como instrumento pedagógico, essencialmente. Tomado
como recreação, o lúdico é caracterizado como passatempo, atividade
descompromissada, improdutiva, sem valor. Tomado como recurso/instrumento
didático para o ensino de determinados conteúdos/conhecimentos (como o
alfabeto, por exemplo), o lúdico racionalizado. Concluindo, podemos dizer que,
muito embora o lúdico esteja presente na escola, o que essa pesquisa
demonstra é uma desvalorização do lúdico como recurso educativo.
Desvalorização que denota a desconsideração da escola contemporânea em
relação ao inconsciente – ao desejo, a fantasia, ao infantil.
Ludic, childhood and schooling: (mis)matches
This research recognizes in the ludic a rich learning space for the child, as it
mobilizes erotic and aggressive fantasies, feeding the elaboration of knowledge
at the level of reason by symbolization and sublimation. In this study, the way
the ludic has been considered and welcomed at the preschool in Brazil is
questioned. The objective of this research is to investigate how the ludic is
upheld in the pedagogical practice of the teacher who works in early childhood
education centers. Interviews were conducted with three teachers working in
early childhood education institutions of a city in the state of São Paulo, Brazil.
The interviews were analyzed from the psychoanalytical theory. The analyses
indicate that teachers essentially perceive the ludic as recreation and as an
educational tool. Defined as recreation, the ludic is characterized as a hobby,
an uncompromising, unproductive, worthless activity. When perceived as a
resource/teaching tool for teaching certain content/knowledge (like the alphabet,
for example), the ludic is rationalized. In conclusion, we can say that, although
the ludic is present in school, this research shows its depreciation as an
educational resource. This slight devaluation denotes the disregard of
contemporary school in relation to the unconscious - the desire, the fantasy, the
infantile.