Neste ensaio apresentarei uma discussão sobre a articulação entre a concepção de
pessoa e a organização social dos Apiaká, povo de lÃngua tupi-guarani que habita tradicionalmente
a área dos rios Juruena e Teles Pires, formadores do Tapajós. A partir
de dados históricos e etnográficos, demonstrarei que, apesar dos efeitos negativos do
contato, observa-se uma continuidade sociocultural que deve muito à vigência de um
sistema social regional, que há muito tempo articula os Apiaká aos Kaiabi e aos Munduruku.
Proponho que tal continuidade, que pode ser apreendida por meio da análise
do código moral local, com foco nas acusações de feitiçaria, participa do esquema
simbólico da “predação familiarizante†(Fausto, 2000; 2001).