A partir de etnografia conduzida em
Minas do Leão (RS) – em pesquisas de mestrado
(UFRGS, 2004) e de doutorado (MN-UFRJ, 2010)
– analiso neste artigo a construção social dos riscos
no cotidiano de uma comunidade de mineiros de
carvão. Ali, as ameaças representadas pela mina de
subsolo constituem o ápice da dimensão trágica,
mas também da construção da heroicidade e da
honra da profissão, expressa em relatos de mineiros
que se consideram “sobreviventes†diante da
sucessão de acidentes de trabalho que marcaram
fortemente a vida da comunidade. Este trabalho
resultou de entrevistas e observação participante
conduzidas durante o ano de 2003 e, mais
recentemente, entre setembro de 2006 e março de
2007, quando habitei na localidade e partilhei a
rotina dos moradores. Esta análise sobre as
representações em torno dos perigos da mina é,
assim, parte de uma investigação mais ampla sobre
a construção da honra entre trabalhadores na mina
subterrânea, que foi objeto de minha tese de
doutorado. Nas narrativas, a mina de subsolo surge
como “outro mundoâ€, com regras de convivência que se diferenciam das adotadas na vida da
superfÃcie. Para muitos trabalhadores, o carvão tem
algo de sagrado, carrega a magia de ter-lhes
conferido uma identidade social, um ethos, de forma
que o fim da mina torna-a mais encantada nas
memórias desses informantes.