A economia brasileira passa por um perÃodo de estabilização, custoso e longo, que se arrasta desde o inÃcio da década de 80, tentando a redução do ritmo inflacionário. Assistimos ás tentativas das mais variadas, implementadas por vários ministros responsáveis pela área econômica de formação ortodoxa e alguns com ideias menos convencionais. Tanto as experiências de estabilização ortodoxa quanto os choques heterodoxos foram infrutÃferos e não tiveram senão momentos efêmeros de sucesso em sua missão de fazer a inflação ceder. As razões para tais insucessos são variadas; passam pela má compreensão teórica do fenômeno inflacionário em geral e, especificamente no caso brasileiro, pela negação de aspectos estruturais presentes no sistema econômico, que são cruciais para o completo entendimento da inflação. As polÃticas monetária e fiscal restritivas ao extremo com o objetivo de deprimir a demanda agregada, caracterÃstica dos esquemas de cunho ortodoxo, e as tentativas alternativas de quebrar a inércia inflacionária, sob o pressuposto de que o conflito distributivo (foco inflacionário imediato no diagnóstico heterodoxo) estava resolvido, foram e são objetos de controvérsias e discussões na área acadêmica, na imprensa e entre os mentores de polÃtica econômica, mas nunca se chegou a qualquer consenso e, acreditamos, nem se chegará um dia. Entretanto, a polÃtica econômica do atual governo, que consisti na manutenção de taxas de juros em patamares estratosféricos, controles de gastos (principalmente com os investimentos e com o funcionalismo) públicos e em práticas recessivas para debelar a inflação, recoloca o problema: as polÃticas de estabilização caracterizadas pela compreensão da demanda e disseminação da recessão são eficientes em economias cronicamente inflacionárias como a brasileira? A elevação persistente dos preços se manifesta, no Brasil, como um fenômeno conjuntural e pode ser tratado com procedimentos de curto prazo ou suas raÃzes e soluções se encontram na estrutura econômica? Enfim, a manutenção da recessão será capaz de domar a espiral inflacionária? O presente estudo tem como objetivo a tentativa de resposta à essas questões. Usando a abordagem da Curva de Phillips, buscaremos verificar a existência do dilema entre inflação e desemprego no curto prazo, através da estimação da referida curva para a economia brasileira entre fevereiro de 1982 e janeiro de 1992. Duas coisas nos preocupam: existe a Curva de Phillips na economia brasileira? Em caso afirmativo, será que vale o esforço de se elevar a taxa de desemprego a nÃveis socialmente crÃticos pela manutenção da recessão, em troca de alguns pontos percentuais a menos na taxa de inflação? Ao longo do artigo tentaremos avançar no sentido de responder a todas essas interrogações. A segunda seção tratá uma breve discussão teórica da Curva de Phillips em suas várias formulações. Na terceira e quarta seções trataremos respectivamente da especificação dos modelos econométricos a serem usados na estimação da curva e dos resultados das estimativas, bem como de sua relevância estatÃstica. Finalmente, a quinta seção tem a missão de apresentar as conclusões do estudo.