Violência vivida: a dor que não tem nome

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ISSN: 1807-5726
Editor Chefe: Antonio P. P. Cyrino
Início Publicação: 31/07/1997
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Multidisciplinar

Violência vivida: a dor que não tem nome

Ano: 2003 | Volume: 7 | Número: 12
Autores: L. Schraiber; A. F.d'Oliveira; H. Hanada; W. Figueiredo; . Couto; L. Kiss; J. Durand ; A. Pinho
Autor Correspondente: L. Schraiber | [email protected]

Palavras-chave: Comunicação; violência; invisibilidade da violência; violência doméstica; mulheres maltratadas.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

É difícil o relato de violência sofrida por mulheres. Trata-se da invisibilidade da violência que afeta as relações usuárias – profissionais, criando impasses comunicacionais. Buscou-se caracterizar este silêncio, estudando usuárias de atenção primária na rede pública de São Paulo, quanto a prevalência de violência, a percepção de ter sofrido violência, a definição de violência em geral e a nomeação dada por quem a experimentou. Entrevistaram-se 322 usuárias de 15 a 49 anos, sobre agressões física, sexual e/ou psicológica, o agressor, e a percepção de ter sofrido violência, solicitando-se o relato de um episódio marcante, o nome que daria a este e a definição de violência em geral. Das entrevistadas, 69,6% referiram alguma agressão física, psicológica ou sexual e, destas, 63,4% não consideraram haver sofrido violência na vida; 64,3% relataram algum episódio marcante e 46,5% atribuíram um nome ao vivido. A definição de violência mais comum foi a de agressão física (78,8%), seguida pela psicológica (39,7%) e sexual (24,2%). Conclui-se que a maioria das mulheres que referiu alguma agressão não considerou haver sofrido violência na vida. Houve grande dificuldade em contar episódios e nomeá-los, e apesar de a maioria desses episódios serem do âmbito doméstico, na definição de violência esta referência não aparece.



Resumo Inglês:

The account of the violence that women undergo is a difficult one. One is dealing with the invisibility of violence affecting users of care services and professionals, which gives rise to communication impasses. The authors attempted to characterize this silence by studying users of primary care in the São Paulo public network as regards the prevalence of violence, the perception of having suffered violence, the definition of violence in general and the designation given by the person who experienced violence. 322 users aged 15 to 49 were interviewed concerning physical, sexual and/or psychological aggression, the aggressor, and the perception of having suffered violence. The interviewees were asked to tell the interviewer about a striking episode, as well as what they would call it and what their definition of violence would be. 69.6% of the interviewees referred to some physical, psychological or sexual aggression; of these, 63.4%% did not consider that they had undergone violence in life; 64.3% told of some striking episode and 46.5% of them gave a name to the experience. The most common definition of violence was physical aggression (78.8%), followed by psychological aggression (39.7%) and sexual aggression (24.2%). One concludes that most women that referred to some aggression did not consider that they had suffered violence in life. They had great difficulty in narrating their episodes and giving them names and, even though most of these episodes had taken place within the domestic sphere, in the definition of violence this reference was omitted.



Resumo Espanhol:

Es difícil el relato de violencia sufrida por mujeres. Se trata de la invisibilidad de la violencia que afecta las relaciones usuarias – profesionales, creando impasses comunicacionales. Se trató de caracterizar este silencio, estudiando usuarias de atención primaria en la red pública de São Paulo, respecto a predominancia de violencia, a percepción de haber sufrido violencia, a definición de violencia en general y al nombre dado por quien la sufrió. Se entrevistaron 322 usuarias de 15 a 49 años, sobre agresiones física, sexual y/o psicológica, el agresor y la percepción de haber sufrido violencia, solicitando el relato de un episodio marcante, el nombre que daría a este y la definición de violencia en general. De las entrevistadas, 69,6% refirieron alguna agresión física, psicológica o sexual y, de estas, 63,4% no consideraron haber sufrido violencia en la vida; 64,3% relataron algún episodio marcante y 46,5% atribuyeron un nombre a lo vivido. La definición de violencia más común fue la de agresión física (78,8%), seguida por la psicológica (39,7%) y sexual (24,2%). Se concluye que la mayoría de las mujeres que refirió alguna agresión no consideró haber sufrido violencia en la vida. Hubo gran dificultad en contar episodios y nombrarlos y, a pesar de que la mayoría de esos episodios sean do ámbito doméstico, en la definición de violencia esta referencia no aparece.