O presente artigo discute algumas concepções sobre o mercado, a partir da perspectiva da Nova Sociologia
Econômica; em particular, trata das diferentes relações sociais de troca, procurando distinguir aquelas
que são do mercado (comerciais) daquelas que não o são. Nesse sentido, entre outros elementos, as trocas
comerciais – conforme definidos pelas teorias econômicas clássica e neoclássica – são reguladas pelos
preços, caracterizadas pela impessoalidade e potencial anonimato e, nos recentes termos de André Orléan,
pelas hipóteses conexas da “nomenclatura†e da “previsibilidade perfeitaâ€. Já as trocas que não se
incorporam ao mercado compreendem o enorme espectro de relações sociais que envolvem interações e
intercâmbios materiais, afetivos, intelectuais, mas de que estão ausentes os elementos anteriores; em
outras palavras, além de não se verificarem as hipóteses da nomenclatura e da previsibilidade perfeita, as
relações não são reguladas pelo sistema de preços e nelas há (possivelmente) contatos afetivos; um
importante caso de troca não-comercial é o da dádiva. Para ilustrar essas diversas diferenças, apresentase
o caso dos sistemas de doações de órgãos, em que se evidencia a impropriedade de assimilar as trocas
tout court às relações comerciais.