Para os estudiosos das desigualdades regionais no Rio Grande do Sul, a leitura
do livro (já clássico) de Robert Putnam sobre as regiões italianas – “Comunidade e
Democracia, a Experiência da Itália Moderna2†- parece falar de realidades muito
familiares. Não há como escapar à impressão de que existe um paralelo entre a
realidade do nosso estado e o caso estudado pelo professor de Harvard. A“Metade
Sul†seria o equivalente pampeano do mezzogiorno, enquanto o norte gaúcho, com
sua herança colonial, assemelhar-se-ia ao centro-norte da Itália, com seu maior
dinamismo econômico e social. Será essa apenas uma impressão, ou a similaridade
pode ser comprovada com base em dados que atestem a existência, aqui, de
diferenças análogas às encontradas por Putnam na Itália?
Um dos objetivos deste texto é buscar uma resposta adequada para essa
indagação, contribuindo para a discussão sobre as diferenças entre as regiões do Rio
Grande do Sul no que se refere à dotação de capital social, conceito que ocupa
posição central na análise de Putnam. Esse tema já foi objeto de um artigo anterior3,
cujo foco principal foi a formulação de hipóteses sobre as causas das diferenças
observadas. Neste texto, pretende-se explorar com maior profundidade e
detalhamento os dados disponÃveis sobre o tema. A primeira seção contém uma
breve revisão da literatura sobre mensuração do capital social. Segue-se a exposição
dos procedimentos adotados em uma pesquisa de campo realizada em 2001,
patrocinada pela Assembléia Legislativa do Estado, que se constituiu na principal
fonte das informações utilizadas na análise empÃrica aqui apresentada. A terceira
seção é constituÃda pela análise dos dados dessa pesquisa. Na conclusão, além de
uma sÃntese dos resultados encontrados na seção anterior, são apresentadas algumas
reflexões acerca das discrepâncias entre as diferenças encontradas quanto ao capital
social e o histórico de crescimento econômico das regiões gaúchas.