Quando, no inÃcio dos anos 60, Bachelard volta a refletir sobre o fogo - desta vez, focalizando a chama da vela e certas personagens da mitologia Ãgnea - aquilo que na verdade o filósofo nos propõe são as grandes linhas de uma poética da intimidade, delineada ao aproximar-se da morte. Seguindo os lampejos da ambivalente consciência do devaneio literário, observamos o desdobrar-se do dinamismo antitético em suas polaridades e divergências, conduzindo a reflexão ao encontro do silêncio solitário e feliz. A luta antagônica entre contraditórios - como na chama, que de fato ilumina destruindo-se - cria uma ocasião de vislumbre da transcendência do ser. Naquele alhures representado pelos sonhos poéticos, a polaridade de luz e trevas torna-se ponte entre real e irreal, entre ser e não ser; sito no qual experimentamos os temas da filosofia do imaginário como aplicações concretas do dinamismo de penumbras e clarões que fixam o ritmo instável de nosso incerto devir. Em tal modo, a imagem poética faz-se vetor de novidades e, entre o estupor e a comossão do poema, perpetua a renovação da realidade. Por fim, no reflexo tênue da luz de uma vela a existência máxima à qual refere-se o poeta, conquista sua efetividade superando o campo do real e do humano.