Tempo e espaço, depois de Kant, aparecem como condições de nosso pensar. A obra bachelardiana parece tributária desse apriori histórico. Percorre, alternadamente, dois espaços, aparentemente estranhos um ao outro: o do conceito e o da imagem. Aquele é ofÃcio da ciência. Este, da poética. Em ambos, uma única compreensão de saber, expressa na máxima a linguagem fala. Pretende-se explorar , interrogar, tais espaços. Trabalhar com a hipótese de uma filosofia espacial bachelardiana. Inicialmente, as lições de espacialidade das revoluções cientÃficas modernas. As novas ciências abalam , desfiguram, o universo bem desenhado da tradição galileana e newtoniana. Em nossa modernidade, os fenômenos deixam de ser a base única para nossas verdades. O real muda de estatuto. É numenal. Revolução observada também na poética. Desaparecem os espaços bem comportados da arte representativa. A imaginação terá outra função: criar. Também aqui as lições de espacialidade nascem do acontecimento linguagem. Os estudos bachelardianos da literatura e da pintura modernas mostram a transformação do estatuto mesmo da imagem. Mostram espaços imprevisÃveis. Espaços não esperados. De Lautréamont e as poéticas dos elementos, até La poétique de l’espace, “imagem†significa coisas diversas. Podem-se, pois, observar inflexões na démarche do pensamento poético de Bachelard, bem como em sua epistemologia histórica. Espaços múltiplos, um mesmo espÃrito.