Este artigo apresenta uma análise dos usos e das percepções da água em Granjeiro (CE), localidade que conta com uma interessante pluralidade de ofertas de águas. Tal pluralidade permitiu que os granjeirences formulassem estratégias diversificadas para a sua utilização, dependendo da fonte, da localidade no municÃpio e da estação do ano, ou ainda das experiências sensoriais advindas do manejo das águas e que levavam à atribuição de adjetivos para cada tipo de água e findaram por determinar seus usos. Estas variáveis sensoriais, no entanto, não são reconhecidas pelo serviço técnico de saneamento do estado, o que gerou desentendimentos. Para dar conta do descompasso entre moradores e responsáveis técnicos pelas águas, este artigo lança mão de uma perspectiva fenomenológica que permite perceber como a proximidade com o manejo cotidiano das águas ou o distanciamento dele define o tipo
de verdade acionada pelos diferentes atores, já que torna possÃvel compreender as práticas sociais em seu poder de constituição de sentidos, que se processa no ir e vir entre ações no mundo, percepções do
mundo e verificação de conhecimentos sobre o mundo. Viver em Granjeiro e lidar com as diferentes águas produziram, esta é a nossa aposta interpretativa, antecipações próprias sobre suas qualidades e usos apropriados.