Neste artigo, assumimos que a relação dos praticantes com aquilo que se pode chamar de contexto faz surgir a
necessidade de problematizar as origens e os mecanismos de manutenção das práticas e das comunidades de prática.
Tendo por base os dados de pesquisa etnográfica em uma fábrica de doces em Pelotas, Rio Grande do Sul,
buscamos mostrar como a transmissão de um saber-fazer artesanal é fruto de uma intencionalidade incorporada.
A partir das vivências e observações sobre as relações entre uma mestra doceira e seus funcionários, percebemos
que o processo de transmissão do saber-fazer caracterÃstico dessa prática artesanal está condicionado a certa
intencionalidade incorporada, associada a questões de gênero, etnia e trajetória de vida. Identificamos que, muito
embora a prática em questão oriente um sistema produtivo relativamente simples, o fato de a maior parte das
pessoas envolvidas não alcançar o domÃnio pleno sobre o saber-fazer que a norteia sinaliza que as relações de
transmissão desse saber incorporado envolvem questões mais complexas do que a disposição ou o interesse para
ensinar ou aprender uma prática.
In this article we assume that the relationship of practitioners with what might be called context gives rise to the
need to problematize the origins and mechanisms of maintenance of practices and communities of practice. Based
on data from ethnographic research in a candy factory in Pelotas, Rio Grande do Sul, we seek to show how the
transmission of practical know-how is the result of embodied intentionality and analyze how this contributes to
the perpetuation of certain social, cultural and historical structures. From the experiences and observations about
the relationship between a master baker and her staff, we perceive that the process of transference of the knowhow
that is characteristic of this craft is conditioned by a specific incorporated intentionality associated with gender,
ethnicity and life trajectory. We found that although the practice in question guides a relatively simple production
system, the fact that most of the people involved do not achieve full mastery over the know-how that guides it
indicates that transference relationships of this embodied knowledge involve more complex issues than the
willingness or interest to teach or learn a practice.