Federalismo e relações intergovernamentais: os consórcios públicos como instrumento de cooperação federativa

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ISSN: 2357-8017
Editor Chefe: Pedro Luiz Costa Cavalcante
Início Publicação: 31/10/1937
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Administração

Federalismo e relações intergovernamentais: os consórcios públicos como instrumento de cooperação federativa

Ano: 2004 | Volume: 55 | Número: 3
Autores: R. E. CUNHA
Autor Correspondente: R. E. CUNHA | [email protected]

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Se nos estados federais os mecanismos de cooperação e coordenação intergovernamental
já são relevantes, no caso brasileiro eles ganham centralidade ainda maior. A Constituição
Federal de 1988 agregou complexidade ao desenho federativo brasileiro, reconhecendo o
município como ente federado. Esse processo foi acompanhado por intensa descentralização
de políticas públicas, pelo fortalecimento do poder local e por mecanismos pouco coordenados
de relação vertical e horizontal entre os entes federativos. Ao mesmo tempo, a
ausência de políticas de desenvolvimento regional acentuou as desigualdades locais e regionais
observadas historicamente no país. Diferentes experiências de consorciamento foram levadas
a cabo por municípios no país e ainda hoje esse é um instrumento de larga utilização. De
forma diversa, as iniciativas de cooperação entre estados são ainda incipientes. As limita-
ções institucionais e jurídicas dos desenhos utilizados pelos municípios, no entanto, levaram
à aprovação da Emenda Constitucional no
19/98, que instituiu os consórcios públicos e a
gestão associada de serviços públicos. Com o objetivo de contribuir para completar o
desenho federativo brasileiro e disponibilizar um instrumento de cooperação
intergovernamental, o Governo Federal enviou projeto ao Congresso Nacional com vistas
a criar ambiente normativo mais favorável à aplicação do art. 241 da Constituição Federal,
instituído por meio da Emenda Constitucional no
19/98. Tal ambiente normativo favorável
procura afastar algumas das dificuldades que a legislação federal impõe no estabelecimento
de obrigações entre entes da Federação, uma vez que, no sistema federal brasileiro, cabe à
União fixar as normas gerais de todos os contratos celebrados por entes que integram a
administração pública de qualquer dos entes da Federação. A elaboração do projeto de lei
não ficou livre de polêmicas. O grande consenso em torno do seu mérito constituinte, no
entanto, faz que seja grande a expectativa de que tal instrumento possa ser rapidamente
aprovado e, por meio dele, seja possibilitada a constituição de instrumentos de cooperação
federativa adequados a diferentes escalas territoriais e a múltiplos objetivos, assim como
seja superada a insegurança jurídica dos arranjos de cooperação que os entes públicos hoje
utilizam. O efetivo uso dos consórcios públicos e da gestão associada de serviços pode ser
instrumento poderoso para o enfrentamento da nova agenda federativa, em especial a
agenda das cidades e do desenvolvimento regional.



Resumo Inglês:

If in the Federal States the mechanisms of intergovernmental co-operation and coordination
are already relevant, they become even more central in the Brazilian case. The
Constitution of the Republic, of 1988, added complexity to the Brazilian federative design,
recognising Municipalities as federate bodies. This process was accompanied by an intense
decentralisation of public policies, by the reinforcement of local power and by poorly coordinated
mechanisms of vertical and horizontal relationship among the federative bodies.
At the same time, the absence of regional development policies underlined the country’s
historically recorded local/regional inequalities. Different consortium experiences were
carried out by Municipalities in the country and, to date, this instrument is widely used.
Differently, co-operation initiatives among States are still incipient. The institutional and
legal limitations of the design adopted by Municipalities led to the approval of a Constitutional
Amendment – number 19/98 - which created the public consortia and the associated
management of public utilities. Aimed at contributing to the completion of the Brazilian
federative design and at making available an instrument for intergovernmental co-operation,
the Federal Government sent a bill to the National Congress with a view at creating a more
favourable legal framework for the enforcement of article 241 of the Constitution of the
Republic, which was done by means of Constitutional Amendment number 19 of 1998.
Such a favourable legal framework is likely to overcome certain difficulties the federal
legislation imposes upon the establishment of obligations among federate bodies, since,
according to the Brazilian federal system, it befalls the Union to set forth the general
standards that govern all contracts entered into by the bodies that make up the
Federal Administration of any federate unit. The drafting of the abovementioned bill was
not devoid of polemics. The wide consensus over its constitutional merit, however, increases
the expectation that such instrument may be swiftly approved and that, through it, it will
be possible to put in place instruments of federal co-operation fitting the different territorial
scales and multiple objectives, as well as to overcome the legal insecurity of the
co-operation arrangements currently used by public bodies. The effective use of public
consortia and of the associated management of services, in our opinion, may be a powerful
instrument for tackling the new federative agenda, particularly the agenda of cities and of
regional development.



Resumo Espanhol:

Si en los Estados federales los mecanismos de cooperación y coordinación
intergubernamental ya son relevantes, ellos adquieren aún más centralidad en el caso brasileño.
La Constitución de la República de 1988 le agregó complejidad al diseño federativo brasileño,
reconociendo el Municipio como ente federado. Ese proceso se acompañó de una intensa
descentralización de políticas públicas, del fortalecimiento del poder local y de mecanismos
poco coordinados de relación vertical y horizontal entre los entes federativos. Al mismo
tiempo, la ausencia de políticas de desarrollo regional subrayó las desigualdades locales/
regionales observadas históricamente en el país. Diferentes experiencias de consorcio han
sido llevadas a cabo por Municipios en el país y éste todavía es un instrumento de amplia
utilización. De forma diversa, las iniciativas de cooperación entre Estados todavía son incipientes. Las limitaciones institucionales y jurídicas de los diseños utilizados por los
Municipios, sin embargo, condujeron a la aprobación de la Enmienda Constitucional nº 19/98,
que instituyó los consorcios públicos y la gestión asociada de servicios públicos. Con el
objetivo de contribuir para completar el diseño federativo brasileño y poner a disposición un
instrumento de cooperación intergubernamental, el Gobierno Federal le envió al Congreso
Nacional un proyecto con miras a crear un ambiente normativo más favorable a la aplicación
del artículo 241 de la Constitución de la República, instituido a través de la Enmienda
Constitucional n. 19 de 1998. Ese ambiente normativo favorable intenta obviar algunas de las
dificultades que la legislación federal le impone al establecimiento de obligaciones entre entes
de la federación, toda vez que, en el sistema federal brasileño, le cabe a la Unión establecer las
normas generales de todos los contratos celebrados por entes que integran la Administración
Pública de cualquiera de los entes de la federación. La elaboración del proyecto de ley no se
dió sin polémicas. El gran consenso alrededor de su mérito constituyente, sin embargo, hace
con que sea grande la expectativa de que tal instrumento se pueda rápidamente aprobar y, a
través de él, se permita la constitución de instrumentos de cooperación federativa adecuados
a diferentes escalas territoriales y a múltiples objetivos, y que se supere la inseguridad jurídica
de los arreglos de cooperación que los entes públicos utilizan hoy en día. El efectivo uso de
los consorcios públicos y de la gestión asociada de servicios, en nuestra opinión, puede ser
un instrumento poderoso para el enfrentamiento de la nueva agenda federativa, en especial la
agenda de las ciudades y del desarrollo regional.