O presente estudo tem como objetivo mapear as principais colaborações do pensamento social brasileiro acerca da luta organizada do negro ao longo da Primeira República, momento em que o povo negro se viu liberto da antiga sociedade de castas que o escravizava, mas no entanto estava fora do projeto da nova sociedade de classe que se formava. Daremos destaque à densa e original interpretação proposta por Florestan Fernandes em seu A integração do negro na sociedade de classes, elencando os principais fatores que diferenciam essa obra de todo o que já havia sido escrito sobre o negro até aquela época. Procuraremos demonstrar que não constitui exagero colocar o trabalho de Florestan entre os primeiros estudos de caráter pós-colonial sobre a luta pela emancipação do negro brasileiro, uma vez que desenvolve suas análises a partir da dimensão simbólica e psicossocial revelada pelo discurso dos próprios sujeitos do movimento, metodologia que ainda estava em desenvolvimento pela nascente Teoria dos Novos Movimentos Sociais. Para tanto, nos guiaremos pelos trabalhos de analistas como Octavio Ianni (2004), Jessé Sousa (2000), Sérgio Tavolaro (2005) e Ilse Scherer-Warren (2010).