A vinculação do papado à história medieval sofreu profunda alteração após 1850. Até então habituais, as referências intelectuais sobre
as caracterÃsticas medievais do poder temporal dos papas tornaram-se genéricas e insuficientes. Um novo modelo interpretativo
ganhou contornos, sobrepujando as explicações existentes. Ancorado na aplicação do método de crÃtica documental e reivindicando
credenciais cientÃficas, esse modelo fixou os séculos seguintes ao ano 1000 como perÃodo da institucionalização da Igreja romana, isto
é, de sua transformação em uma monarquia papal. Com esse trabalho, buscamos esclarecer como se deu essa fundação historiográfica,
analisando a importância do trabalho do erudito francês Paul Fabre e a publicação da edição moderna do Liber Censuum. Toda
argumentação é orientada por uma hipótese: esse deslocamento epistemológico naturalizou certas categorias polÃticas oitocentistas
na escrita da história medieval.