A ideia deste escrito é apresentar as reflexões iniciais de uma pesquisa em curso sobre a amizade e as experiências travestis em Campos dos Goytacazes, cidade localizada no norte fluminense. Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, é um desdobramento da investigação iniciada no mestrado, na qual problematizei a experiência de travestis nos circuitos da prostituição de rua nesta mesma cidade. Tanto no senso comum, como em muitos trabalhos acadêmicos, a imagem das travestis é habitualmente ligada à prostituição e aos processos de violência e marginalização. Esta constatação foi um dos disparadores que me fizeram questionar sobre outras dimensões que envolvem as experiências travestis. Um elemento muito presente nas falas delas foi a presença das amigas; a partir disso me propus a indagar sobre a importância das amizades nos processos de subjetivação, pois acredito que isto pode evidenciar, de forma problematizadora, uma histórica possibilidade de invenção de si, da constituição de modos de existência que não estejam limitados ao enquadramento no repertório exclusivo da marginalidade e dissidência. Desse modo, penso ser possÃvel contribuir para a superação da visão que comumente vitimiza e execra as travestis. Uma análise histórica que visibilize as experiências constituÃdas nas e pelas relações de amizade, que constituem e dão sentido à s travestis e à s travestilidades, põe em relevo a formação de um tecido afetivo que permite e potencializa a continuação das diversas formas de vida, pode contribuir para outros olhares sobre elas, talvez menos estigmatizadores e vitimistas.
The idea of this writing is to present the initial reflections of an ongoing research on friendship and transvestites experience in Campos dos Goytacazes, a city located in northern Rio de Janeiro. Developed in the Program of Pos-Graduate Studies in the History of Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, is an outgrowth of research begun in the Masters, where think about the experience of transvestites in street prostitution circuits in this city. Both common sense, as in many scholarly works, the image of transvestites is usually linked to prostitution, violence and marginalization processes. This finding was one of the triggers that made me wonder about other dimensions involving transvestites experiences. A very present in their speeches element was the presence of friends; from that set out to inquire about the importance of friendships in subjective processes, because I believe that this may disclose in a problematical way, a historic opportunity to inventing itself, the formation of modes of existence that are not limited to the framework in the repertoire exclusive marginality and dissent. Thus, I think it can contribute to overcoming the vision that often victimizes and decries the transvestites. A historical analysis visibilize the experiences made in and by the friendly relations that constitute and give meaning to transvestites and travestilidades, highlights the formation of an affective fabric that allows and empowers the continuation of the various forms of life, can contribute to other looks on them, maybe less stigmatizing and vitimistas.