Os espaços urbanos comuns da cidade são apropriados pelo capital visando garantir as condições necessárias
para a produção-reprodução das relações capitalistas. Nesse contexto, o desaϔio seria imaginar e construir um
tipo totalmente diferente de cidade capaz de romper com a dinâmica do capital, fundado em novas formas de
apropriação da cidade, o que implica em articular teoria e práxis. Mas para isso ocorrer torna-se necessário criar
um novo conhecimento sobre o urbano e um forte movimento social anticapitalista focado na transformação do
cotidiano da vida urbana como seu objetivo, o que envolve novas formas de apropriação dos espaços urbanos
comuns. É nesse contexto e desde uma perspectiva dialética que o presente ensaio busca articular as formulações
de Henri Lefebvre e de David Harvey, buscando contribuir para a compreensão dos processos de produção do espaço no capitalismo contemporâneo, a discussão sobre o futuro das cidades e as perspectivas de transição.
Para tanto, o ensaio aborda quatro ideias centrais: (i) uma concepção dialética de espaço para problematizar
a produção e a apropriação dos espaços urbanos comuns da cidade; (ii) o reconhecimento dos espaços urbanos
comuns das cidades como espaços atravessados por contradições, disputas e conϔlitos materiais e simbólicos
entre diferentes agentes; (iii) o direito à cidade como uma necessidade e como um projeto utópico; e (iv) o
desaϔio da articulação das práticas heterotópicas na perspectiva da rebeldia criativa pelo direito à cidade e
da transição para novos futuros urbanos.
A city’s common spaces are appropriated by capital that aims to guarantee the conditions necessary for the
production-reproduction of capitalist relations. In this context, the challenge is to imagine and construct a
very different type of city capable of breaking away from the dynamic of capital, founded on new forms of
appropriation of the city, which implies articulating both theory and praxis. For this to occur, however, it is
necessary to create new knowledge about the city and a strong anti-capitalist social movement focused on
the transformation of daily urban life and involving new forms of appropriation of urban common spaces. It
is in this context, and from a dialectic perspective, that this article articulates the ideas of Henri Lefebvre and David Harvey, seeking to contribute to an understanding of the production processes of space in contemporary
capitalism, the discussion of the future of cities and perspectives on transition. To do so, the article addresses four central ideas: (i) the dialectic conception of space to problematize the production and appropriation of urban common spaces; (ii) the recognition of urban common spaces as spaces traversed by contradictions, disputes and material and symbolic conÏlicts among different agents; (iii) the right to the city as a need and as a utopian project; and (iv) the challenge of articulating heterotopic practices from the perspective of creative rebellion for the right to the city and the transition to a new urban future.