Composto por duas estrofes irregulares de sete versos cada, “Metade da vida†é, sob vários aspectos, um ponto de referência quase inescapável para qualquer debate em torno da lÃrica tardia de Friedrich Hölderlin, ao concentrar em pouco mais que uma dezena de linhas muitos dos principais temas e emblemas que atravessam a obra do poeta. Tendo como moldura inicial um cenário aparentemente idÃlico – onde as rosas e peras amarelas pairando na lagoa preparam a emergência da apóstrofe aos cisnes que surgem bebendo a água sacrossóbria no sétimo verso –, é possÃvel que a torção mais chamativa do poema inteiro se dê a partir da interjeição que abre como um furo inesperado a estrofe seguinte, quando o eu até há pouco mal disfarçado na interpelação ao “vós†ressurge convertendo em uma aparente pergunta retórica o gesto de colher flores, numa frase que demarca então a primeira assÃntota violenta entre os ritmos humanos e os da natureza.