Este artigo é uma tradução de Humberto Luiz Lima de Oliveira. Desde o século das Luzes, um preconceito tão arraigado quanto aberrante fez da Ãfrica um continente sem passado, sem história, sem cultura nem civilização, mergulhado, de fato, nas trevas e na barbárie. A consequência disso é que, ainda hoje, muito poucos, mesmo entre as mentes mais cultas, estão dispostos a admitir que um fato importante de civilização encontrado na Ãfrica possa ser obra de africanos negros. Segundo esse paradigma “o homem africano não entrou suficientemente na História... Nunca ele se lança para o futuro. Jamais lhe vem a ideia de sair da repetição para inventar um destino!â€. Esse preconceito é de tal maneira abrangente que diz respeito a todos os domÃnios, à exceção talvez da música e do esporte. Basta pensar aqui na História, claro, mas também na Filosofia, na Arte, na PolÃtica, na Economia, e até mesmo num campo “neutro†como as Ciências. Eis como se manifesta neste último domÃnio, segundo as palavras indignadas de Jean-Marc Bonnet-Bidaud, pesquisador do "Comissariado para Energia Atômica" (o qual realizou um apaixonante documentário - em colaboração com os etnólogos Germaine Dierterlen e Jean Rouch – sobre os conhecimentos astronômicos do Dogons do Mali): “Cientificamente, a Ãfrica é um deserto. Consultando as melhores obras da história das Ciências, em nenhuma parte se achará referências a um cientista africano, a uma descoberta ou simplesmente um feito da ciência africanaâ€.