Propomos observar o funcionamento de um recurso linguÃstico – a pausa – na interpretação teatral. Vinculados ao campo da Fonoaudiologia, buscamos subsÃdios teóricos no campo da LinguÃstica, sobretudo da Fonologia Prosódica – mais especificamente, destacamos os constituintes prosódicos frase entonacional e enunciado fonológico –, propondo, assim, um diálogo entre esses campos, no que diz respeito ao trabalho com atores. Na literatura fonoaudiológica, o trabalho com atores volta-se, fundamentalmente, para questões orgânicas envolvidas no processo vocal, como “mau uso†ou “abuso vocalâ€. Em menor grau, verificam-se, nessa mesma literatura, trabalhos que destacam questões sobre interpretação e recursos expressivos, além de poucos que destacam a importância dos recursos linguÃsticos na interpretação. Já no que diz respeito à literatura linguÃstica, a pausa, em maior grau, é abordada sob a perspectiva fonética, relacionada a vários planos da linguagem. Para o desenvolvimento da presente pesquisa, analisamos registros em áudio de quatro atores, de um mesmo grupo de teatro, interpretando o texto teatral Brutas flores, norteados pelos seguintes objetivos: (1) detectar o local de ocorrência de pausas na interpretação que quatro atores fazem de um mesmo texto; (2) levantar as caracterÃsticas fÃsicas de duração dessas pausas; (3) verificar em que medida a duração da pausa se relaciona com seu ponto de ocorrência, no que diz respeito a limites prosódicos de frases entonacionais (I) e enunciados fonológicos (U). Pudemos observar que, apesar de a interpretação se caracterizar pela subjetividade do ator, essa interpretação é construÃda no interior de possibilidades que a própria organização prosódica do texto oferece, sendo mais, ou menos, flexÃvel. Pudemos, ainda, confirmar, por meio da duração de unidades VVs das quais constam pausas, a hierarquia prosódica proposta por Nespor & Vogel, uma vez que a duração dessas unidades em limites de Us se apresentou significativamente maior do que sua duração em limites de Is. Desse modo, nossos resultados reforçam a premissa de que a estrutura linguÃstica se sobrepõe à subjetividade do ator, ou seja, a premissa de que a força da organização das estruturas linguÃsticas atua sobre o possÃvel funcionamento/estilo individual.
We intend to observe the function of a linguistic resource – the pause – in theatrical interpretation. Connected to the field of speech therapy, we search for theoretical support in the Linguistics field, mainly in prosodic phonology – specifically, we highlight intonational phrase and phonological utterance, prosodic constituents –, proposing a dialogue between these fields, regarding the work with actors. In speech therapy literature, the work with actors focuses, centrally, in organic issues involved in the vocal process, such as “misuse†or “voice abuseâ€. To a smaller extent, we find, in this literature, researches that emphasize issues regarding interpretation and expressive resources, besides a few emphasizing the importance of linguistic resources in interpretation. Differently, in linguistics literature, the pause is approached, to a larger extent, from the phonetic perspective, related to several language levels. In this research, we analyzed audio recordings of four actors from a same theatrical group, acting the theatrical text Brutas flores, focused on these aims: (1) detect the place where pauses happen in the interpretation of a single text by four actors; (2) survey physical characteristics of length of these pauses; (3) check to what extent the length of a pause is related to the place where it happens, regarding the prosodic limits of intonational phrases (I) and phonological utterance (U). We could observe that, although the interpretation is characterized by the subjectivity of the actor, the interpretation is constructed based in the possibilities offered by the prosodic organization of the text itself, being more or less flexible.We were also able to confirm, by considering the length of VVs units containing pauses, the prosodic hierarchy proposed by Nespor & Vogel, once the length of these units in U's limits was significantly higher than the length in I's limits. Thus, our results reinforce the premise that a linguistic structure overlaps the subjectivity of the actor, i. e., the premise that the strength of linguistic structure organization acts on the possible individual operation/style.