Até hoje, estudos sobre o lazer e, em especial, sobre a ocupação do tempo livre de
trabalho, com atividades que promovam a qualidade de vida e a apropriação de
diferentes bens culturais polemizam debates nos meios acadêmicos e em
administrações públicas municipais, estaduais e federais. Por meio da análise da
primeira experiência brasileira, no âmbito federal, que teve como objetivo fomentar,
programar e difundir atividades esportivas, culturais e de escotismo para o
operariado sindicalizado e sua famÃlia, apresenta-se o Serviço de Recreação
Operária, SRO, órgão criado pelo Ministério do Trabalho Indústria e Comércio no
ano de 1943 e extinto em 1964. Para a realização da análise, desenvolveu-se uma
pesquisa historiográfica de natureza qualitativa, que utilizou procedimentos da
história oral e da análise de conteúdo para a apropriação dos dados, objetivando
verificar, através do levantamento de diferentes fontes oficiais, os objetivos e
finalidades dessa instituição durante todo o seu ciclo vital, bem como o contexto
polÃtico e social que envolveu cada perÃodo. Como problema de pesquisa
estabeleceu-se a investigação e a análise de todo o conjunto de referências, estudos
acadêmicos e documentos oficiais, sobre o ciclo de vida integral do SRO, porém
delimitando a investigação nas discussões e atividades desenvolvidas nos anos que
demarcam o perÃodo compreendido entre 1958 e 1964. Durante o processo de
investigação, observou-se que os estudos cientÃficos existentes sobre essa
instituição generalizaram suas análises e constatações, ao afirmarem que o SRO
teve uma trajetória histórica linear e como finalidade principal contribuir com o
projeto de coerção e conformação do operariado sindicalizado, proposto nos anos
quarenta, durante o Estado Novo. Esse estudo contesta essa compreensão,
afirmando que o SRO subverteu a lógica de conformação do operariado brasileiro,
proposta por seus idealizadores, e que, durante o perÃodo compreendido entre os
anos de 1958 e 1964, seus objetivos e ações pretenderam um modelo gestão
participativa que buscasse a adesão voluntária, a conscientização e a emancipação
do operariado sindicalizado no Brasil, para a escolha das atividades que seriam
desenvolvidas no seu tempo livre de trabalho. Espera-se que os resultados e
conclusões apresentadas nesta tese, que articulou narrativas, evidências
documentais e fontes bibliográficas, possibilitem uma nova compreensão sobre a
história da recreação operária e sobre o Serviço de Recreação Operária no Brasil.