Sobretudo a partir da virada deste último século, produtores, músicos e gestores paraenses e de outros estados e regiões tem se articulado em torno da divulgação, em âmbito nacional, do que ficou conhecido como a Nova Música Paraense. Esta, por sua vez, ancorada em três eixos estéticos: a influência da música caribenha e/ou latino-americana; a atualização do brega, com suas variantes e ramificações; e a utilização de tecnologias e recursos contemporâneos relativos aos processos de produção, reprodução, circulação e consumo musical. Associam-se ainda uma série de representações que darão significação ética à conjunção destes: condição periférica, espontaneidade, criatividade, exotismo, dentre outras correlações. Evidentemente, todas estas articulações não são aleatórias, ou mesmo simples decorrência de um vanguardismo idiossincrático, pois vêm se coadunar a uma espécie de deslocamento, que redireciona a importância, a legitimidade e o potencial narrativo dos tradicionais discursos acerca da música popular, com toda a sua ênfase nas dimensões arcaicas e rurais, para outra ideia: agora são as nuances a partir das quais as manifestações urbanas periféricas articulam elementos tradicionais e modernos, locais e globais que passam a retroalimentar e representar as expressões populares. Destarte, levando-se em conta tais considerações, procurei então entender como se desenvolveu este deslocamento e como foi apropriado e reproduzido em âmbito regional/paraense. A partir de entrevistas junto a personagens reconhecidamente envolvidos e/ou influentes nesse processo; e tomando como referência a dimensão retórico-performática das elaborações identitárias, buscou-se compreender como foram tecidas as mais recentes narrativas em torno da, hegemonicamente divulgada, Nova Música Paraense. As experimentações presentes nos trabalhos de grande parte dos artistas identificados com este momento refletem a busca pela ideia de uma sensibilidade associada ao domÃnio fronteiriço e periférico em um contexto relacional e contrastivo notadamente colonial.