ARTIGO: DA COMUNICAÇÃO À LINGUAGEM.

Revista Espaço

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ISSN: 25256203
Editor Chefe: Wilma Favorito
Início Publicação: 31/12/1989
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Educação, Área de Estudo: Letras, Área de Estudo: Linguística, Área de Estudo: Multidisciplinar

ARTIGO: DA COMUNICAÇÃO À LINGUAGEM.

Ano: 1994 | Volume: Especial | Número: 4
Autores: José Humberto Serra de Oliveira
Autor Correspondente: José Humberto Serra de Oliveira | [email protected]

Palavras-chave: Educação de Surdos

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

No nosso artigo anterior, falamos da "comunicação com nossos filhos surdos". Colocou-se especial ênfase na importância das interações-comunicativas entre mãe-pai-filho, entre os adultos e a criança, para favorecer seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e, por imposição, lingiístico. Assim, de fato, parecia concluir-se da análise dos estilos comunicativos contrapostos, de um lado, representado por aqueles que dialogam, explicam e compartilham experiências passadas, presentes e futuras com seus filhos, e por outro,por aqueles que usam a linguagem única e exclusivamente, para controlar e regular condutas do momento. Ressaltada a importância da comunicação, hoje vamos falar da linguagem. Talvez alguns perguntem: mas não é a mesma coisa?É claro que comunicação e linguagem guardam estreita relação. O veículo das interações adulto-criança é , naturalmente, a linguagem; mas a comunicação começa  muito antes, quando a criança não é ainda capaz de emitir uma só palavra. Mas, há matizes entre ambos os conceitos que convém esclarecer e, principalmente,enfatizar aquilo que a linguagem acrescenta à comunicação. Vejamos: a comunicação é um requisito para que a linguagem apareça. É um processo cujo produto final é a linguagem; instrumento que permite exercer a comunicação com maior precisão e eficácia. "Comunicação" é um conceito mais amplo do que o conceito de linguagem, pois aquela pode surgir de múltiplas formas: umas, lingúísticas e outras, não linguísticas. Os seguintes exemplos nos permitem compreender melhor o que aqui queremos dizer: o bebê que chora porque tem fome, sede ou que sente incomodado,está mandando um SOS aos adultos que o rodeiam. Mas não está utilizando uma linguagem em sentido estrito.E para a mãe fica a dúvida se o seu filho quer beber ou se lhe doí a barriga. A criança pequena que sente sede e aponta para uma torneira, pedindo, desse modo, água, está também se comunicando, mas para satisfazer a sua necessidade ainda não está  utilizando um sistema lingiístico. A sua estratégia de apontar apenas as coisas de que necessita so é válida quando as mesmas estão presentes no contexto. À  comunicação da criança do nosso exemplo é ainda limitada. Ela só poderá satisfazer a sua sede se, ao redor, houver indícios de água. Mas, quando, por fim, a criança é capaz de dizer "água","me dá água”,e o diz na ausência dela, pode-se afirmar que ela está utilizando a linguagem, isto é, um conjunto de signos arbitrários organizados segundo certas regras, e com os quais pode representar a realidade, cujo uso lhe permite comunicar-se com maior precisão e eficácia.O progresso dessa criança é muito grande. Continuando com o nosso exemplo, a criança poderá explicitar claramente o que deseja e poderá fazê-lo, mesmo que não haja água ao seu redor.Vê-se, agora,com mais clareza o que a linguagem acrescenta à comunicação e a importância para que esta se cristalize n alinguagem. "Da comunicação à linguagem" é o nosso titulo de hoje.E que a criança surda dê este passo e possa exercer a comunicação comum sistema linguístico é o objetivo chave de sua educação.Com tal título, queremos indicar que a comunicação(que deve ser cuidadosamente trabalhada) é um requisito para que a linguagem apareça.Mas,assim mesmo,significa que devemos desejar que o deficiente auditivo possa exercer essa comunicação, não de qualquer forma, mas mediante um sistema lingúístico.