Como coloca A. G.Cabas(1982) "quem DIZ CURSO está dizendo caminho. Caminho que,quando formulado em palavras, se denominará DISCURSO."Mas, que caminho é esse?que formulação e palavras serão essas? Quando se pensa em curso, se pode pensar no de um rio - com foz e com desembocadura- e numa história continua,sempre realimentada pela nascente,que se desenrola,leito a frente,de modo insólito.Quando se pensa em formulação,se pode evocar fórmula (de ação).E, então,se pensa num espaço cifrado,como o de um código. Um espaço onde inscrevem constituintes que se contaminam e, ao mesmo tempo,se excluem,uns aos outros,em suas intimas relações.Como,pois, se pode dar um código num curso?ou, ainda,como acontece uma formulação em um caminho?Em “O Futuro de uma Ilusão”,Freud(1978) trata de dois valores que,como aqueles,se atravessam,quando aqui se lê como um (per)curso o de uma história da civilização,e como algo formulado- porque socialmente codificado- o essaço de constituintes de uma cultura.E, nesse sentido,essa cultura será como que um campo discursivo, em relação àquela dada história. Agora,se quando se diz DISCURSO se pensa numa formulação por palavras,a que ordem de significação serem e teriam esses simbolos?Se convencionalmente regulados,como podem dar conta de um percurso inédito,porque particular?E mais,se já existem antes,a se também persistem(e insistem) após o término de uma história formulada por elas,de que vertedouro fluiriam essas palavras?A partir de Saussure,e como o “Cours de Linguistic Générale”,a linguística, já como ciência,interessou-se pela descrição sistematizada de fato.de códigos falados,firmando como pressuposto uma oposição entre:a)lingua- enquanto sistema,e b) fala - enquanto uma sua utilização,individual,na prática comunicativa.No entanto,e como faz ver Coudry(1988)ao excluir de seu projeto frases que (....)"pareciam o resultado de uma combinatória livre do sujeito”,Saussure teria levado muito além do necessário um seu afã reducionista. Mais adiante, com o programa chomskyano,iria dar-se uma revolução, paradigmática, na linguistica.Contudo, refere ainda Coudry(1988)"o sujeito, que parecia reincorporado, aqui, por uma perspectiva psicológica, fica excluído da teoria, que visa estabelecer,como base explicativa,um sistema de universais independentes da atividade dele próprio".E, assim,nenhumadessasduasteoriasteriadadocontade incluirosujeito,ou sua subjetividade,a não ser por umaconcepçãoteórica,idealizada,e árida.Ficavaessesujeito,pois,forade sua própriahistóriaformulada.Foi num intervalo entre esses dois discursos científicos que Lacan,ao retomar o signo lingúístico,atribuiu-lhe o que chamou de VALOR de significação.E, uma das consequências disso foi que,invertendo o esquema saussureano Lacan remeteu ao significante a função maior de formular o significado,o que acabou por incluir o sujeito da fala,definitivamente,nesse espaço.Agora,o que teria a ver, então,como discurso essa formulação tratada por Lacan?E o sujeito desse discurso,como se construiria ele, e como se construiria sua fala,ou seria o seu falante?Afinal,seriam paridas,ou seriam parideiras as palavras,que formulam cursos?Parideiras,antes de serem paridas,diria Lacan. E com isto se sublinha,que num primeiro corte não se separa,de fato,o que era “dois-em-um”.Simbólica e seguencialmente o que se dá é que rompido o cordão umbilical,que unia,sucede-lhe a ligação que é seio-boca,para que em seguida abrir-se o OLHO imaginário.e, aqui, O filhote do homem que agora VÊ,se VÊ falado.No lugar mesmo de um significanteformuladono (e pelo)discurso do OUTRO.Um OUTRO,que nesse momento se constitui na função de uma mãe,que fala o filho.Nesse percurso,só depois de um tempo irá impor-se,que em nome de um pai - arauto da lei - seja consumado,afinal,aquele corte.E quando,como aval daquela mãe,um real,um NÃO se confirma ali,e se desgarra e pode nascer,por fim,o sujeito,que do enunciado passa para a enunciação.Que foi parido pelo simbólico da fala.À partir daí, inscrito que já estava no que há de social no código,imprime-se no caminho desse recêm-nato um pai simbólico- guardião da diferença- que marcou e que agora lhe passa a senha,para que o filho te dê conta de formular sua jornada.No desenrolar disso tudo,eis aí a gênese de como se constrói e vai se constituindo um discurso.Discurso que,por uma cadeia simbólica de significantes,pode velar o não-dito,pelo que é dito.Discurso,que em seu percurso vai atravessar o social da lingua,e o particular da fala.Discurso que,então,fica sendo um curso formulado por palavras.Palavras que se sedimentam e que se decantam formando,assim,um determinado grupo de fala.E, segue daí, a história da grande busca no(s)caminho(s).