Crenças e valores morais adotados pelos pais na educação dos filhos

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ISSN: 1676-9627 (impressa); 2316-9605 (on-line)
Editor Chefe: Profa. Maysa Gomes
Início Publicação: 01/01/2002
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Educação

Crenças e valores morais adotados pelos pais na educação dos filhos

Ano: 2008 | Volume: 5 | Número: 4
Autores: Lincoln Coimbra Martins
Autor Correspondente: Lincoln Coimbra Martins | [email protected]

Palavras-chave: crenças e valores, educação familiar, primeira infância

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

Neste artigo, relata-se um estudo cujo objetivo foi analisar, na produção discursiva de pais de baixa renda, o conjunto das orientações para crenças e valores morais predominantemente utilizados na educação familiar de crianças entre 2 e 6 anos e as transformações que essas orientações sofrem em situação de interação social. Os referenciais teóricos utilizados se apóiam nos conceitos de desenvolvimento da abordagem sociocultural construtivista e nos estudos sobre moralidade desenvolvidos com base nessa perspectiva. A pesquisa foi realizada com quatro pais de crianças usuárias de uma creche municipal da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Foi realizada uma entrevista semi-estruturada com cada participante em uma das salas da creche e todas foram registradas em fitas de áudio. Foi feita uma análise qualitativa dos conteúdos das entrevistas com base nas seguintes categorias temáticas: a) conceitos de certo e errado; b) agências influentes no desenvolvimento das noções de certo e errado; c) desenvolvimento das noções de certo e errado e função parental; d) ressignificação da avaliação de atitudes e comportamentos como certos e errados em razão do contexto. Os resultados sugerem que o conjunto das orientações para crença adotadas pelos pais na educação das crianças não representa uma simples reprodução de valores, mas expressa um esforço de ressignificação de valores universais à luz das experiências pessoais dos pais em contextos socioculturais particulares. O poder parental na definição do conjunto de crenças e valores morais aparece no discurso dos pais com um peso relativo, sendo tomado ora como contravalor, ora como uma orientação inócua, ora como fator positivo no posicionamento moral do sujeito diante de situações reais de vida. Essa influência mostra-se maior em razão da qualidade do vínculo afetivo e da coerência discurso/comportamento na relação cuidador/ criança.

Resumo Inglês:

This article reports a study whose purpose was to analyze, based on speeches by low-income parents, the set of beliefs and moral values predominantly used in family education of children between 2 and 6 years old, as well as the changes occurred in such orientations upon social interaction situations. The theoretical background is based on the concepts of development under the socio-cultural constructivist approach as well as on studies about morality conducted from such perspective. The survey was carried out with four parents of children who attend a municipal crèche in the Metropolitan Area of Belo Horizonte. A semistructured interview was made with each participant in one of the crèche rooms, and all of them were recorded in tapes. A qualitative analysis of the interviews was performed based on the following theme categories: a) concepts of right and wrong; b) agents influencing the right and wrong notions; c) development of right and wrong notions and parental role; d) re-meaning of the evaluation of attitudes and behaviors as right and wrong impacted by the context. The results suggest that the set of beliefdirected orientations adopted by the parents for growing children does not represent a simple reproduction of values, but rather expresses an effort of re-meaning of universal values under the perspective of personal experiences lived by the parents in particular socio-cultural contexts. The parental power in the definition of the set of beliefs and moral values appears in parents’ speeches with a relative weight, sometimes regarded as a counter-value, other times as an innocuous orientation and still others as a positive aspect in the individual’s moral positioning whenever faced with real life situations. Such influence can be higher depending on both the quality of the emotional link and the speech/behavior coherence in the care taker/child relationship.

Resumo Francês:

L’article rapporte une étude dont l’objectif est d’analyser l’ensemble de la production discursive des parents appartenant aux couches populaires de la ville, au niveau de la transmission des croyances et des valeurs dans l’éducation d’enfants âgés de 2 à 6 ans. On analyse surtout les transformations que ces transmissions subissent lors des échanges sociaux. Les références théoriques utilisées s’appuient sur l’approche socioculturelle constructiviste et sur les études sur la moralité développées selon cette perspective. La recherche a été faite auprès de 4 couples de parents d’enfants qui fréquentent une crèche municipale de la région métropolitaine de Belo Horizonte. On a réalisé un entretien avec chaque parent dans les locaux de la crèche, et tous les entretiens ont été enregistrés. On a entamé ensuite une analyse qualitative du contenu des interviews à partir de quatre catégories thématiques: a) les notions de correct et d’incorrect; b) les facteurs susceptibles d’influencer les notions de correct et d’incorrect; c) le développement des notions de correct et d’incorrect et la fonction parentale; d) la resignification de l’évaluation des attitudes et des comportements considérés comme corrects et incorrects en fonction du contexte où ils se manifestent. Les résultats de la recherche indiquent que l’ensemble des transmissions parentales adoptées ne se réduisent pas à une simple reproduction de valeurs; cet ensemble traduit un effort de resignification des valeurs universelles à la lumière des expériences personnelles des parents dans des contextes socioculturels particuliers. L’efficacité de la parole parentale dans la transmission de l’ensemble des croyances et valeurs morales y apparaît comme ayant une valeur relative, pouvant être prise comme contre-valeur, comme inefficace ou encore comme facteur positif dans la posture morale du sujet devant les situations réelles de la vie. L’influence des parents augmente en fonction de la qualité du lien affectif, de la cohérence des propos et des comportements des parents vis-à-vis de l’enfant.