As discussões acerca das diferentes metodologias, estratégias e tecnologias educacionais para surdos, estejam estes inseridos em salas de aula mistas ou exclusivas e bilíngues, são sempre bem-vindas. Por isso mesmo, iniciamos, com o número 61 da Revista Espaço, uma série de publicações, organizadas por áreas do conhecimento, nas quais pesquisadores de todo o país e mesmo estrangeiros apresentem e discutam propostas de ensino bilíngue associadas às diferentes disciplinas que compõem o currículo da Educação Básica.O presente número, que inaugura essa série da Revista Espaço, é dedicado ao ensino de Matemática para e com estudantes surdos. Reconhecemos a importância de iniciarmos pela Matemática por dois pontos centrais: o primeiro deles é o fato de que, por mais que se publiquem muitos artigos relativos à educação de surdos, em geral, a maioria deles versa sobre o ensino de Língua e Literatura e apresenta foco nas séries iniciais, próximas à alfabetização. Inquieta-nos o pouco espaço acadêmico oferecido para discussões metodológicas que extrapolem o texto escrito em Língua Portuguesa e conteúdos básicos do ensino de Português como segunda língua. Um segundo ponto que consideramos essencial é a necessidade de estimular, entre pedagogos, intérpretes, professores e estudantes envolvidos na educação de surdos, a percepção da importância de se compreender a Matemática como linguagem, múltipla em
significações e complexa, não porque é uma “matéria difícil”, mas sim porque opera diferentes ordens de raciocínio humano. Sendo assim, convidamos os leitores e as leitoras da Espaço 61 a ampliarem seu conhecimento acerca da educação de surdos no que tange não só ao ensino da Matemática, mas às possíveis competências e habilidades que um estudante pode desenvolver, se estimulado por meio de metodologias que, para além de respeitarem as especificidades de seu “ser surdo”, o coloquem como protagonista do processo de ensino-aprendizagem. Nas páginas do número 61 da Espaço, portanto, há inúmeras discussões teóricas e ricas experiências práticas sobre a educação de surdos. Além dos artigos, pesquisas acadêmicas, teses, os leitores apreciarão a obra do artista surdo curitibano Giuliano Robert que, dentre outras declarações, particularmente nos emocionou com a seguinte: “... persista nos seus sonhos. Mostre ao mundo quem você é, porque ser surdo é ter seu próprio mundo e suas próprias conquistas”. De fato, acreditamos que os surdos têm muito do que se orgulhar, mas também entendemos que para além do seu “próprio mundo” é perfeitamente possível que o indivíduo surdo esteja inserido no mundo que é comum a todos os cidadãos.Desejamos a todas e todos uma ótima leitura! Comissão Executiva da Revista Espaço