Eglê Malheiros é uma intelectual que se distingue pela discrição. Apesar de ter participado ativamente do Grupo Sul (que trouxe o modernismo à vida cultural de Santa Catarina) e da revista Ficção (que no final dos anos 70 promoveu amplamente a arte do conto no país), a atuação de Eglê prima pela reserva, mesmo quando, como agora, mantém uma coluna semanal no Diário Catarinense. Bacharel em Direito pela UFSC e mestra em Comunicação pela UFRJ, sua obra abarca desde roteiro de filme até peça de teatro, passando por contos e poemas, além de criação e crítica de literatura infantil, de que é especialista. Mas Eglê também exerceu a tradução ao longo de toda sua carreira. Como alguns de nossos melhores tradutores, Eglê é multilíngüe e multidisciplinar em sua atividade tradutória: traduziu do inglês, francês, alemão, espanhol e italiano um amplo leque de textos. A pouca visibilidade de sua obra de tradutora é inversamente proporcional à sua extrema importância civilizacional: de fato, entre as muitas laudas traduzidas estão as de verbetes para as enciclopédias Delta-Larousse e Mirador, assim como de artigos de revistas, entre elas, das célebres Civilização Brasileira e Paz e Terra. Em vez de se dedicar a textos canônicos ou atuais, que lhe dariam notoriedade, Eglê preferiu trabalhar nos bastidores, onde se constrói lentamente a cultura que fica.