A partir da análise do discurso de tendência francesa como arsenal teórico-metodológico e valendo-nos sobretudo dos estudos desenvolvidos por Dominique Maingueneau, nesta dissertação analisamos os discursos sobre o ser surdo e a surdez produzidos na condição de surdez, buscando depreender as imagens de surdez discursivamente produzidas pelos próprios sujeitos. Para tanto, 21 questionários respondidos em português escrito por surdos universitários foram analisados. As análises partiram da seguinte conjectura: a partir da tríade universo, campo e espaço discursivo, apresentada por, projetar o campo discursivo da surdez, constituído por um espaço onde se confrontam duas formações discursivas (FD) – uma clínica, outra lingüístico-antropológica. A partir da primeira FD podem-se vislumbrar discursos de fundamentação ouvintista, caracterizados pelo princípio de que o surdo é um “ouvinte incompleto”, que pode “aperfeiçoar-se” por meio de condutas específicas. A partir da segunda FD originam-se discursos de fundamentação surda, determinando uma conduta de vida pautada pela riqueza da “experiência visual”, postulando que ser surdo é uma questão vivencial, que se baseia em uma língua e em uma comunidade específica. As análises partem da compreensão deste “embate de FDs” que se institui nesse espaço discursivo. Constatamos, nas análises, maior ocorrência do discurso de fundamentação surda (DFS) no corpus da pesquisa, analisados se mostraram condizentes com o discurso de fundamentação ouvintista (DFO). Entre as inúmeras imagens da surdez delineadas nos discursos, encontramos as seguintes oposições: no DFS, a surdez é vista a partir dos semas normalidade surda / comunidade / independência e liberdade / afirmação de felicidade, ao passo que no DFO, ela é vista a partir dos semas deficiência ouvinte / solidão e exclusão / subordinação à tentativa de adequação/ afirmação de sofrimento.