Ao que tem parecido,o termo bilingúismo pode sugerir diferentes vias de discussão,ou defesa,para diversificadas perspectivas político-educacionais na área da surdez e, assim,sempre se faz oportuno saber a que tipo de bilingúismo terá sido feita tal menção.Dentre outros,aquele que tem defendido programações onde se incluiriam Língua de Sinais e oralização?Tipo de bilinguismo esse,aliás,que gera certa confusão entre o que sejam aquisição de linguagem e aprendizado de segunda língua(L2),porquanto o que se conhece por oralização pressupõe uma estruturação de linguagem a ser feita,exclusiva-mente,através da língua oral falada por ouvintes.Não obstante a isso,no pior dos casos,nesse tipo de bilingúismo fica sob suspeita um possível desmerecimento da real legitimidade de quaisquer das línguas de sinais pelas quais surdos/as pode ma dquirira linguagem de modo natural.Por outro lado,estará o mesmo termo bilinguismo se referindo ao uso da LIBRAS e do português— vista sambas como línguas constitutivamente indissociáveis de culturas diversas entre si — objetivando um bilingúismo com biculturalismo?Ou aquele que preconiza a prática da LIBRAS como L1 (primeira língua)mais a do português escrito como L2 (segundalíngua)como atualmente tenho preferido trabalhar?(Especialmente,considerando o fato de que nem toda pessoa surda consegue ser oralizada,por vários motivos).Ou, ainda,ao tipode bilingúismo que postula o uso da LIBRAS como língua da cultura de uma minoria surda,como português escrito tomado como L1 ou língua instrumental parafins específicose, portanto,sem caráter integrativo?(Istoé, ao que tudo indica,tipo de bilingúismo de pretensão monocultural).Na verdade,em quaisquer destes e demais tipos de bilinguúismo estarão subjacentes os enten-dimentos específicos acerca do que sejam usos de uma língua.Nesse sentido,traço considerações gerais acerca de aspectos nodais implícitos numa tal noção,por considerá-los os mais cruciais nesse campo.Ao fazê-lo,estou ciente que isso se constitui numa expressiva do sede ousadia da minha parte,tendo em vista O curto espaço de fala de que disponho nesta ocasião. Estarei me guiando por uma ótica de cunho dialógico bakhtiniano[ABBUD(1995);BAKHTIN,(1929)1998],com viés sócio-histórico[WERSCHT(1991);MOITALOPES(1998)],quando posiciono o discurso com o modo de ação no mundo e o significado como não sendo fixo em quaisquer línguas[ARONOWITZe GIROUX(1991)] Levando em conta que na área da surdez têm havido diferentes visões acerca de usos da LIBRAS e do português como dito acima,a questão preliminar é a de que ao final da década de 60 o mundo viveu soba influência da versão radical de uma idéia então conhecida como“hipóteseSapir-Whorf”[WHORF(1971)].Ou seja,na época,se acreditava que uma leitura do mundo seria inapelavelmente determinada por uma respectiva língua nativa.No entanto,também é verdadeiro que tal crença logo se tornaria difícil tanto de ser aceita,quanto de ser comprovada.Dentre outras razões,porque essa crença entrava em discordância, o mínimo,como que se tem na Suíça,onde uma população inteira convive muito bem com quatro diferentes línguas,todas elas nacionais[Elgin(1984)]e então:qual dessas tantas línguas estaria(pré)determinando a cultura sueca?.Além disso,igualmente ensejava a conclusão inaceitável de que ensinos de L2 seriam impossíveis— porquanto culturas não se ensinam— o que de fato nunca encontrou respaldo em qualquer país onde se viva.Na verdade,a tal crença entrava em sintonia com estudos antropológicos que,na mencio-nada ocasião,ainda lidavam com um conceito muito vago sobre o que fosse cultura se contentando tão somente em destacar além do idioma,usos de artefatos,costumese outros valores do gênero[ABBUD(1995)]em populações ditas nacionais.Ou seja,hoje já se alcançou uma noção mais fecunda,vista qualquer cultura como complexo território social em perene transformação,onde convivem diferentes pessoas e diferentes grupos que(com)partilham disputas na construção de significados[ABBUD(7b.)]inclusive por meio de usos desta ou daquela língua[FAIRCLOUGH(1992);MOITALOPES(1998)].Por conseguinte,arena social complexa onde então não fica viável cogitar sobre coletividade sestruturalmente estática se apartadas,até mesmo da parte de sujeitos socialmente oprimidos como os da classe operária,ou surdos e surdas falantes de línguas de sinais,ou negros e negras,ou gays,ou idosos e idosas etc[RUTHERFORD(1990)].Isso se dá na justa medida em que mesmo em qualquer grupalidade social cada participante é sempre atravessado por características múltiplas e variadas.Por exemplo,o que pode ocorrer no caso de um sujeito surdo,falante de LIBRASque é ao mesmo tempo negro e gay,ser também idoso e ainda membro da classe operária,entretanta soutras possibilidades?Defato,igualmente em virtude de atravessamentos múltiplos da monta destes últimos,já se tempo dido tomar alguma distância de embate sincipientesa propósito de práticas sociais desta ou daquela língua e, por conseguinte,também sobre o que sejam construções identitárias.Ou, como faz ver Rutherford(1990,p.24):“Na atualidade uma cisão em nossa relação como mundo exterior tem sido marcada por ruptura sem nossa própria relação para conosco.[Emusosde qualquerlíngua]nossasbuscasporidentidade,porumsensodecoerênciae inteligibilidadepessoal,centram-senumlimiarentreinteriore exterior,entreo si próprioe o outro”(traduçãodestaautora).Questões como estas todas começaram a ser melhor percebi-das na décadade 70, a partir de posicionamentos pós-estrutu-ralistas como os de Derrida,Lacan,Foucault,entre outros/as,quando também se inaugurou o que hojes e conhece como politicação de subjetividade se de identidades,bem como por processo sinterve-nientes numa tal politização[HALL(1998)].Istoé, através de uma ótica pós-estruturalista se partiu para a defesa de dimensões subjetiva se objetiva sem cons-truções identitárias,não mais importando práxis exclusivas desta ou daquela língua.De fato,(re)conceptualizações como essas passaram a servira diversos movimentos de cunho político-cultural,ao serem questionadas distinções entre dentro/fora e privado/público.Tal qual o que começou a ocorrer com as mais variadas raças que,como faz ver Hall(ib.),desde então foram percebidas não mais como meras condições biologizada se genéticas,ou mesmo como produtos predeterminados por este ou aquele idioma e/ou por esta ou aquela cultura.Em cada uma das raças ficamà mostra conjuntos frouxos de características(formato de olhos,cor de pele,texturadoscabelosetc.)vistos agora como marcas simbólicas permeadas por outras,de natureza múltipla e das mais diversas.Assim,analogamente as (re)leituras como essas últimas,terminaram por ficar possíveis de (re)pensara surdez também como marca simbólica,a qual atravessa com outras marca sem diferentes pessoas surdas—negras,idosas,gaysetc.De qualquer modo,tais pessoas surdas já têm sido inclusive responsáveis pela conquista de umas poucas oportunidades sociais em justas reivindicações que comungam com as demais,sendo que tais vitórias parecem ser marcos importante sem nosso próprio país.Essa importância se explica porque,muito provavelmente,essas poucas conquistas iniciais podem enseja fértil abertura para trocas interpessoais entre surdos/as e usuários/as de LIBRAS e ouvintes,sem que,necessariamente,se apaguem suas variadas marcas simbólicas,em indispensáveis negociações a serem mutuamente partilhadas na complexa cultura brasileira em que todos/as vivemos,nesta modernidade tardia.Hoje só pormeio de politizações identitárias(em suas dimensões subjetiva e objetiva)se podem alcançar emancipações de ações,de falas e de vozes(não-laríngeas)capazes de se fazerem“ouvir”em variados contextos e em situações particulares sempre diversificadas.Ou seja,ações,falase vozes(não-laríngeas),que desde sempre possam promover contínuas atualizações discursivas na construção de significa dos sócio culturais posto sem circulação.Aliás,isso tema ver coma questão crucial de que,em nosso multidimensiona do mundo atual,já não mais se estabelecem certezas,ou como se descartam imponderáveis,em usos de qualquer língua.Ou,como observam Hall(1998)e Bhabha(1998),em nosso mundo globalizado pós-moderno quaisquer espécies de posicionamentos que envolvam pessoas,ou grupos diferentes,já não podem eliminar de vez um necessário enfrentamento para com incomensurabilidades próprias de situaçõe se condições inusitadas.Assim,especialmente consi-dera da uma(re)visão crítica acerca de posicionamentos político-educacionais que estarão norteando diversificados tipos de bilingúismo na área da surdez;e,mesmo tendo tratado com brevidade as questões abordadas neste texto,talvez fique oportuno terminá-lo colocando em destaque a necessidade de se continuarem incrementando estudos e pesquisas.Porém,estudos e pesquisas que,por caminhos multidisciplinares, permitam que se construam e mesmo se reconstruam propostas político-educacionais bilíngues que sejam flexíveis e abertas,de tal forma que tanto reconheçam,quanto possam suportar e acolher alteridades,multiplicidades e diferenças,na educação especial de surdos/as brasileiros/as.