A alimentação como elemento definidor de um campo de pesquisa é um tema cujas fronteiras são demasiado amplas, sendo comum a afirmação de sua importância, universalidade, condição fundadora das civilizações, eixo organizador dos sistemas de classificações, o mais forte mediador afetivo e formador dos laços e identidades das comunidades.
A alimentação é o fenômeno mais amplo da reprodução das sociedades (não apenas humanas) por meio da incorporação de substâncias externas ao nosso corpo, necessárias para repor sua energia e sua carne. O que comer, como produzir, estocar, transportar e preparar, eis a questão.
Em última instância, como escreveu Michael Pollan, todos comemos um pedacinho do sol, pois dele as plantas tiram a energia para constituir as suas cadeias complexas de carbono. Hoje em dia, comemos também o combustÃvel fóssil que cada vez mais se incorpora ao processo produtivo e distributivo da agroindústria.
Por isso, falar de alimentação é falar de cadeias alimentares, de agroindústria, de mercado de commodities, de “food powerâ€, elemento estratégico nas relações internacionais. E é também falar de uma crise civilizatória, um sistema produtivo agroindustrial que a comunidade cientÃfica de forma praticamente unânime vem apontando como responsável pelo aumento da emissão de derivados de carbono na atmosfera, além de outros problemas de agropoluição.
O tema da alimentação é assim, “imperialâ€, abrange e invade praticamente tudo. Por isso, ao falar da história da alimentação é preciso começar por delinear o objeto em questão.
Num esquema geral, poderÃamos dividir as instâncias como “macro†e “microâ€. No primeiro grupo, estaria a alimentação como produção e distribuição dos bens, como história econômica e, especialmente, história da agricultura e, em se tratando da época moderna, das relações agrÃcolas e industriais.(...)