Este ensaio apresenta considerações sobre a elaboração do discurso historiográfico narrativo apoiado em técnicas literárias e ficcionais como forma de interpretação nas pesquisas históricas. Concentra-se, como suporte teórico, nas ideias de Hayden White que, há algumas décadas, propôs um debate sobre a natureza do conhecimento histórico contrapondo narrativa, pensamento literário e pensamento científico, indicando ser a história, um artefato verbal, produto de um tipo especial de uso da linguagem, produtora de um conhecimento específico. São apresentados os tipos gerais de tropos identificados pela teoria retórica neoclássica na qual White se apoia – metáfora, metonímia, sinédoque e ironia – que fornecem uma classificação dos tipos de discursos históricos e permitem ver as maneiras pelas quais o discurso histórico se parece com ou converge para uma narrativa ficcional. São apontados os principais argumentos deste autor frente às críticas sobre a excessiva relatividade do conhecimento histórico na sua teoria: os sistemas de produção de significados compartilhados por historiografia, literatura e ficção são todos extraídos da experiência histórica de um povo, um grupo, uma cultura. Por fim, são apresentados dois trabalhos no campo da História da Educação Matemática que se valeram da literatura e da ficção para a construção de narrativas que objetivam a produção de conhecimentos acerca da formação de professores e da educação matemática no Brasil.
In this essay we present considerations on the elaboration of narrative historiogra-phical discourse, supported by literary and fictional techniques, as interpretation in historical research. It focus on the ideas of Hayden White, who incited, some decades ago, a debate on the nature of historical knowledge, opposing narratives, literary thinking and scientific know-ledge, taking history, a verbal artifact, as the product of a particular use of language, producer of a specific knowledge. We introduce the general types of tropos identified by neoclassical rethorical theory on which White stands -- metaphor, metonymy, synecdoche and irony --, that provide a classification of the types of historical discourse and allow one to see the ways in which historical discourse looks like or seems to converge with fictional discourse. White’s main arguments against the criticism towards a supposed excessive relativity of historical knowledge in his theory: the systems of production of meanings shared by historiography, literature and fiction are all extracted from the historical experience of a people, a group, a culture. Finally, we present two pieces of work on the history of mathematical education that made use of lite-rature and of fiction in order to construct narratives that aim at the production of knowledge on teacher education and mathematics education in Brazil.