Injustiças epistêmicas e a violência sexual contra meninas e mulheres: sobre dados e fatos

Direito em Movimento

Endereço:
Rua Dom Manuel, número 25, Centro
Rio de Janeiro / RJ
20.010-090
Site: https://ojs.emerj.com.br/index.php/direitoemmovimento/index
Telefone: (21) 3133-3886
ISSN: 21798176
Editor Chefe: Cristina Tereza Gaulia
Início Publicação: 30/04/2003
Periodicidade: Anual
Área de Estudo: Ciências Sociais Aplicadas, Área de Estudo: Direito

Injustiças epistêmicas e a violência sexual contra meninas e mulheres: sobre dados e fatos

Ano: 2025 | Volume: 23 | Número: Não se aplica
Autores: Bruna dos Santos Costa Rodrigues
Autor Correspondente: Bruna dos Santos Costa Rodrigues | [email protected]

Palavras-chave: justiça, injustiça epistêmica, epistemologia social, violência sexual, gênero e raça

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O presente artigo discute o conceito de justiça e sua contraposição à injustiça, destacando a negligência histórica da ciência em explorar essa última em profundidade. A partir da epistemologia social proposta por Miranda Fricker, analisa-se a injustiça epistêmica como fenômeno que limita o acesso e a validação das experiências individuais e coletivas, especialmente de grupos historicamente marginalizados. Tal reflexão é fundamentada nas práticas epistêmicas que, ao longo do tempo, legitimam e reproduzem desigualdades de gênero, raça e classe, resultando em epistemicídio e exclusão social. Nesse contexto, evidencia-se como a violência sexual contra mulheres e crianças, sobretudo contra mulheres negras, não apenas viola direitos fundamentais, mas também constitui forma grave de injustiça epistêmica, ao silenciar vítimas e negar credibilidade aos seus testemunhos. O estudo busca, assim, articular conceitos teóricos e dados empíricos, demonstrando a relevância da abordagem de Fricker para compreender as dinâmicas sociais que sustentam a violência sexual e para indicar caminhos de enfrentamento a partir da justiça cognitiva. Metodologicamente, a pesquisa tem natureza qualitativa,de caráter teórico-bibliográfico,fundamentada na análise de referenciais da filosofia, sociologia, antropologia e epistemologia social, em especial a obra de Miranda Fricker sobre injustiça epistêmica. O estudo parte da revisão crítica de literatura acadêmica e documentos oficiais, articulando conceitos de justiça, injustiça e práticas epistêmicas às discussões sobre violência sexual contra mulheres e crianças, com uso do método exploratório-analítico.



Resumo Inglês:

This article discusses the concept of justice and its counterpoint to injustice, highlighting the historical neglect of science in exploring the latter in depth. Based on the social epistemology proposed by Miranda Fricker, this study analyzes epistemic injustice as a phenomenon that limits access to and validation of individual and collective experiences, especially those of historically marginalized groups. This reflection is grounded in the epistemic practices that, over time, legitimize and reproduce gender, racial, and class inequalities, resulting in epistemicide and social exclusion. In this context, it is evident how sexual violence against women and children, especially Black women, not only violates fundamental rights but also constitutes a seriousform of epistemic injustice by silencing victims and denying credibility to their testimonies. The study thus seeks to articulate theoretical concepts and empirical data, demonstrating the relevance of Fricker's approach to understanding the social dynamics that underpin sexual violence and to indicating ways to address it through cognitive justice. Methodologically, this research is qualitative in nature, theoretical and bibliographical, and based on the analysis of references from philosophy, sociology, anthropology, and social epistemology, particularly Miranda Fricker's work on epistemic injustice. The study begins with a critical review of academic literature and official documents, linking concepts of justice, injustice, and epistemic practices to discussions on sexual violence against women and children, using an exploratory-analytical method.