Este trabalho propõe um estudo sobre a inserção dos surdos no mercado de trabalho, abrangendo as políticas públicas, as práticas organizacionais adotadas por instituições de direito público e privado, e as histórias de vida de pessoas surdas incluídas no meio produtivo. Para o fim proposto, a validação da pesquisa foi aferida pelo método da triangulação de métodos, partindo do entendimento de que esta abordagem considera a participação e as percepções dos sujeitos envolvidos na criação e na implementação de programas sociais, considerando as relações e as representações como parte fundamental dos êxitos e limites das ações exercidas em diversas micro e macro realidades. Assim, sustenta-se que tal método permite a combinação e o cruzamento de múltiplos pontos de vista que acompanham o trabalho de investigação, permitindo uma interação crítica, intersubjetiva e comparação. Para isso, realizaram-se três estudos, sendo o primeiro com a finalidade de analisar a pertinência das ações institucionais voltadas para a qualificação e encaminhamento profissional da pessoa surda. A partir de entrevistas realizadas com os responsáveis por aquele segmento, obtiveram-se dados que forneceram subsídios para delimitar a eficácia das atividades adotadas para a inserção dos surdos no mercado de trabalho. O segundo estudo se ateve à finalidade de identificar a concepção dos empregadores sobre a pessoa surda, seu trabalho e a sua inserção no quadro de funcionários. Nesta etapa, também, adotou-se a entrevista com os responsáveis pelos setores de recursos humanos ou áreas afins de cinco empresas no Rio de Janeiro, contratantes de pessoas surdas. O terceiro estudo focou as histórias de vida de pessoas surdas incluídas no meio produtivo. Nesta fase da pesquisa, procurou-se, por meio de depoimentos, compreender o processo de inserção profissional e suas trajetórias entre a vida educacional e o trabalho. As revelações da pesquisa foram apresentadas, a partir do triângulo arquitetado, e analisadas durante o processo investigativo. Esta divisão triangular teve como ponto de convergência o trabalho e suas dimensões. Foram reveladas quatro categorias, denominadas da seguinte forma: Perversidade Instrumental: marcas silenciosas dos corpos produtivos; Infernalidade Excludente: estrangeiro no próprio país; Ineficiência Política: a inclusão que exclui; e Frustração Crítica: Quixotes, Sanchos e Pilatos no mundo do trabalho. Este estudo revelou que, em relação às políticas públicas e ações institucionais, há que se pensar no desenvolvimento de políticas mais efetivas voltadas para a acessibilidade universal no mundo do trabalho e na educação. Estas, por sua vez, devem promover ações complementares que deem as motivações para que o surdo possa avançar de maneira autônoma e independente. Em relação às práticas organizacionais, foi revelado que estas, muitas vezes, são caracterizadas pela "pejoratividade", alicerçadas no assistencialismo e na condescendência ilusória socialmente, em que surdos contratados são colocados em posições subalternas e humilhantes, não valorizando as áreas nas quais possuem talento nato e melhores aptidões. Finalmente, em relação à pessoa surda, constatou-se que as barreiras do preconceito e discriminação da sociedade reafirmam que a luta pela inserção social é vivenciada na vida cotidiana e, sobretudo, no ambiente de trabalho. A análise de dados confrontou o material coletado no campo empírico com os conteúdos teóricos levantados pela revisão bibliográfica, organizada em três eixos: o primeiro tratou da relação humana com o trabalho; o ideário sociedade e deficiência, abrangendo, também, aspectos como limitações, estigma, cultura e identidade. O segundo eixo tratou das concepções: políticas públicas e deficiência; legislação e surdez; e ações para encaminhamento e qualificação da pessoa surda. Já o terceiro eixo procurou abordar o surdo e o mercado de trabalho, enfocando a temática empregabilidade e surdez, e a qualificação profissional da pessoa surda.