Iracema, de José de Alencar (1829-1877), foi publicada em 1865 num ambiente em que o sentimento nativista estava em voga, contribuindo significativamente para nossa autonomia cultural, em razão da nova forma de expressão apresentada, que representava uma reação contra o portuguesismo literário. Percebendo o esgotamento do poema épico de molde camoniano, Alencar, aproveitando a sonoridade vocálica do tupi, compôs seu poema em prosa recheado de indianismos, procedendo ao que Haroldo de Campos denominou um “programa de barbarização estranhante da linguagem”. O autor adotou sem parcimônia o style indien, empregando epítetos, comparações com elementos da natureza, períodos destacados, estrangeirismos, e promoveu desvios às normas gramaticais. Este trabalho tem por objetivo observar a primeira tradução francesa dessa obra, realizada em 1907, por Philéas Lebesgue (1869-1958). Busca-se averiguar se o texto francês apresenta os traços mencionados.
Iracema, by José de Alencar (1829-1877), was published in 1865, when a nativity sentiment was in vogue. It contributed to Brazilian cultural autonomy, because of its new form of expression that represented a reaction against Portuguese literature. Alencar, conscious of the exhaustion of Camoëns epic poem model, used the vowel sounds of Tupi idiom to create his poetic prose full of Indian loan words. He adopted the Indian style with epithets, comparisons with nature, parataxis, and deviated from some grammatical rules. This article has the purpose to analyse Philéas Lebesgue’s French translation of Iracema, made in 1907, in order to observe the characteristics mentioned above.