Este artigo, fruto de pesquisa realizada com jovens inseridos no tráfico de drogas, objetiva analisar os sentidos produzidos por jovens negros e periféricos a respeito de suas experiências no mercado ilegal de drogas, a partir de uma perspectiva que interseccione os marcadores de raça e classe social. Realizou-se uma investigação qualitativa com nove jovens em cumprimento de medida socioeducativa, durante cinco meses. Nesse período, empregou-se a observação participante, diário de campo e entrevistas narrativas, a partir do método de história de vida, buscando explicitar os entrelaçamentos das trajetórias e condições de vida narrados pelos sujeitos e os desdobramentos em suas experiências no tráfico de drogas. Para tanto, baseou-se em referencial teórico que aprofunda a discussão sobre a juventude negra e periférica como objeto permanente do poder punitivo. A criminalização desse contingente é uma constante histórica, reproduz a miséria e a segregação. Nesse sentido, os resultados desse estudo mostram que o tráfico de drogas é reiteradamente uma alternativa ao cenário de escassez de direitos e políticas públicas destinadas a esse contingente. Assim, essa atividade se apresenta como um caminho para esses jovens, contraditoriamente, sonharem e buscarem uma vida autônoma, distinta da realidade que os cerca.
This article, the result of research conducted with young people involved in drug trafficking, aims to analyze the meanings produced by black and peripheral young people about their experiences in the illegal drug market, from a perspective that intersects the markers of race and social class. A qualitative research was conducted with nine young people in compliance with a socio-educational measure, for five months. During this period, it was used participant observation, field diary and narrative interviews, based on the life history method, seeking to explicit the interweaving of trajectories and life conditions narrated by the subjects and the unfolding of their experiences in the drug trade. To this end, it was based on theoretical references that deepen the discussion about the black and peripheral youth as a permanent object of punitive power. The criminalization of this contingent is a historical constant, reproducing poverty and segregation. In this sense, the results of this study show that drug trafficking is repeatedly an alternative to the scenario of scarcity of rights and public policies for this contingent. Thus, this activity presents itself as a path for these young people, contradictorily, to dream and seek an autonomous life, distinct from the reality that surrounds them.