MAGISTÉRIO EXTRATIVISTA DA TERRA DO MEIO –experiências de currículo como território educativo na floresta amazônica

Ano: 2021 | Volume: 14 | Número: 2

Autores: Raquel da Silva Lopes; Irlanda do Socorro de Miléo

Palavras-chave: Educação diferenciada. Emancipação. Pedagogia da Alternância.

Resumo Português:

Este trabalho apresenta uma experiência de currículo como território educativo. Reconhecendo-se os riscos da pluralidade semântico-conceitual desta categoria, busca-se, todavia, agregar sob sua abrangência uma série de vivências educativas experimentadas no âmbito de um Projeto de Formação de Professores Extrativistas, no interior da floresta amazônica numa região conhecida como Terra do Meio, na confluência entre os rios Xingu e Iriri, que evidenciam de forma inconteste a possibilidade concreta de subversão de uma ‘ordem curricular’ preestabelecida como condição de operacionalização do trabalho pedagógico, cuja principal emais perversa consequência é o descolamento da realidade do território em que se efetiva, culminando na quase absoluta artificialização de toda experiência de educação escolar realizada com povos e comunidades tradicionais. Assim, inspirados pela abordagem proposta pelo método da cartografia, visa-se a trazer evidências de contracultura escolar possibilitada por uma concepção de currículo como prática encarnada no chão da vida e intrincada nas malhas do território de sua realização. Nesta perspectiva, o território se configura, para além de espaço onde as coisas acontecem, como fator educativo, de alto potencial pedagógico para todos os sujeitos envolvidos na experiência, desde que seja concebido como resultado de construção coletiva permeado de contradições e não como fato consumado. Assume-se a experiência educativa encarnada no território como direito ao pleno desenvolvimento da vocação humana, ao devir, mas a um devir viável e em consonância com as necessidades de sujeitos concretos, historicamente situados e existencialmente potentes.

Resumo Inglês:

This paper introduces a curricular experience as an everyday exercising of the idea of educational territory. As this work acknowledges the risks entailed in the semantic-conceptual plurality of that category, it also seeks nevertheless to aggregate within its reach a series of educational experiences deriving from the project Gatherer Communities Teachers’ Education, inside the Amazon forest, in a region known as Terra do Meio (Middle Land), at the confluence of the rivers Xingu and Iriri, which incontestably evince the concrete possibility for the subversion of a pre-established “curricular order” as condition for the operationalization of the pedagogical work, whose main and most perverse consequence is the displacing of the reality of the territory in which such work occurs, culminating in an almost absolute artificialization of the whole experience of school education carried out with traditional peoples and communities. Therefore, inspired by the approach by the cartography method, this paper intends to indicate pieces of evidence regarding school counterculture, which becomes possible due to a conception of the curriculum as practice both rooted in life experience and intertwined in the fabric of the territory where it takes place. The territory is, beyond the space where things happen, an educational factor with a high pedagogical potential for all individuals involved in the experience. Accordingly, this article assumes the educational experience rooted in the territory as the right to a full development of the human vocation, to a becoming, but a viable becoming, which is in consonance with the necessities of concrete individuals, historically situated and existentially potent.

Resumo Espanhol:

Este trabajo presenta una experiencia de currículo como territorio educativo. Reconociendo los riesgos de la pluralidad semántico-conceptual en estacategoría, busca, todavía, agregar bajo su alcance una serie de experiencias educativas vividas en el marco de un Proyecto de Formación de Profesores Extractivistas, en el interior de la floresta amazónica en una región conocida como "Tierra del Medio", en la confluencia entre los ríos Xingu e Iriri, que demuestran claramente la posibilidad concreta de subversión de un "orden curricular" preestablecida como condición de operacionalización del trabajo pedagógico, cuya principal y más perversa consecuencia es el desprendimiento de la realidad del territorio en el que se desarrolla, culminando en la casi absoluta artificialización de toda la experiencia educativa escolar realizada con pueblos y comunidades tradicionales. Así, inspirado en el enfoque propuesto por el método cartográfico, tiene como objetivo traer evidencias de contracultura escolar hecho posible por un concepto de currículo como práctica incorporada en el terreno de la vida e intrincada en las mallas del territorio de su realización. El territorio se configura, más allá del espacio donde pasan las cosas, como factor educativo, de alto potencial pedagógico para todos los sujetos envueltos en la experiencia. De esta manera, la experiencia educativa encarnada en el territorio se asume como un derecho al pleno desarrollo de la vocación humana, al devenir, pero a un devenir viable y acorde con las necesidades de sujetos concretos, históricamente situados y existencialmente potentes.