"Meninas de Sinhá": a reinvenção da vida nas tramas do discurso musical

Ano: 2008 | Volume: 5 | Número: 5

Autores: Thais Nogueira Gil, Rogério Cunha Campo

Palavras-chave: ações coletivas, experiência estética, mulher idosa

Resumo Português:

Este é um estudo qualitativo sobre um grupo musical conhecido como “Meninas de Sinhá”, formado por 34 mulheres negras, idosas, de classes populares, residentes no Alto Vera Cruz, uma comunidade na periferia de Belo Horizonte. O grupo se formou com o objetivo de reunir senhoras que usavam medicamentos antidepressivos para interromper a medicação e encontraram na música a alegria de viver. O repertório delas inclui cantigas de roda, versos e canções próprias e de domínio público. Procurou-se, neste trabalho, reconstituir a história desse grupo, considerando o discurso dos sujeitos envolvidos nesse processo. Para isso, foram realizadas observações, entrevistas semi-estruturadas com sete integrantes do grupo, diálogos com as demais, filmagens, gravações, visitas às casas das entrevistadas, aos ensaios e shows, entrevistas com pessoas que se relacionaram com o grupo. Assim, foi possível entender a trama do discurso musical, aqui entendida como o efeito de trançar uma rede de possibilidades, de construção de uma vida mais feliz por meio das trocas. As tramas desse discurso, com seus aspectos musicais e humanos, foram tecidas pelo grupo por meio da sua capacidade de significar e de costurar as contribuições daquelas que participam da história. O desenvolvimento do grupo se tornou evidente sob diferentes aspectos: pessoal, pois suas integrantes já não mais se sentem deprimidas; musical, pois no início cantavam apenas canções de domínio público, mas, atualmente, incluem composições próprias, o que tornou o grupo conhecido nacionalmente. Propõe-se ao grupo, ao final, o desafio de estar atento aos perigos da indústria cultural, uma vez que ele não pode perder a linha de sua trama inicial: promover a alegria e a saúde de suas integrantes por meio da música.

Resumo Inglês:

This is a qualitative study of a musical group known as “Meninas de Sinhá”, formed by 34 elderly black women from the working class, who reside in Alto Vera Cruz, a community located on the outskirts of the city of Belo Horizonte. The group was formed to bring together older women who used anti-depressant medications, as a way to stop use of these medications, and they discovered the joy of living in music. Their repertoire includes children’s merry-go-round songs, verses and their own works, and others in the public domain. This study tells the background of this group, considering the discourse of the subjects involved in this process. To do so, we made observations, conducted semistructured interviews with seven members of the group, and dialogues with the others, filmed, recorded, visited the homes of those interviewed, went to rehearsals and shows, and interviewed others who had dealings with the group. This way, we were able to understand the weave of the musical discourse, here understood as the effect of weaving a network of possibilities, of building a happier life through exchanges. The weave of this discourse, with its musical and human aspects, were woven by the group through their capacity for meaning and for adding the contributions of those who participated in the story. The group’s development became evident from several different aspects: personal, since its members were no longer depressed; musical, since in the beginning, they only sand songs in the public domain, but now they compose their own music, which made the group nationally known. At the end we suggest to the group that they be careful of the dangers inherent in the cultural industry, since it must not lose sight of its original meaning: to promote the happiness and health of its members through music.

Resumo Francês:

Il s’agit d’une étude qualitative concernant un groupe musical nommé “Meninas de Sinhá”. Le groupe est formé de 34 femmes noires, âgées et pauvres vivant dans la cité “Vera Cruz”, dans la banlieue de Belo Horizonte. Le groupe s’est formé à partir du rassemblement de quelques femmes qui se trouvaient sous antidépresseurs, son but étant celui de remplacer le traitement médical par des activités musicales. Le répertoire musical du groupe est composé de rondes enfantines, de vers et de chansons populaires. On a essayé de reconstituer l’histoire personnelle des ces femmes tout en considérant le discours de chacune d’elles, et pour ce faire on a eu recours à des observations sur place, à des entretiens réalisés auprès de 7 membres du groupe et à des dialogues. On a aussi fait des tournages et des visites domiciliaires. Certaines personnes de l’entourage du groupe ont été interviewées. On est allé aux répétitions et aux spectacles du groupe. Ainsi, il a été possible de comprendre la trame du discours musical, qui s’est révélé comme un réseau aboutissant sur une plus grande qualité de vie grâce aux échanges sociaux. Les trames du discours musical avec ses aspects humains et musicaux furent tissées par le groupe moyennant sa capacité à absorber et à signifier la contribution de ses membres. Le groupe a subi plusieurs transformations. Tout d’abord, au niveau personnel: les femmes ne se sentent plus déprimées. Sur le plan musical : les compositions musicales des femmes font maintenant partie de leur répertoire, ce qui a rendu le groupe connu sur le plan national. On propose aux femmes du groupe de rester attentives au danger que peut représenter l’industrie culturelle; elles doivent garder le fil de la trame initiale, soit promouvoir la joie et la santé de ses membres à travers la musique.