Seria leviano desconsiderar que o debate travado entre Freud e Jung agregou valor à trajetória científica de ambos, mesmo em considerando a ruptura que definiria destinos diferentes para suas respectivas teorias. Os encontros e desencontros entre eles é analisado, com rigor e engenho crítico, por Felipe Jesuíno. Sigmund Freud, ao descobrir a realidade do inconsciente de seus pacientes, foi levado, também, a interessar-se por seu próprio inconsciente; dessa empreitada, surgiu a obra fundadora da psicanálise: A interpretação dos Sonhos. Esta, por sua vez, fundaria tanto uma nova teoria acerca da alma humana, como também um novo método de tratamento das neuroses, a Psicanálise - baseada na associação livre e na atenção flutuante, rompendo, assim, em definitivo, com as técnicas da psicoterapia alicerçada nos métodos sugestivos, sobretudo o hipnótico. Mesmo diante das grandes resistências ou da indiferença do meio científico a essa nova contribuição, não tardou que alguns eminentes estudiosos se acercassem de Freud, tal o interesse em torno dos ainda enigmáticos processos inconscientes. Tal foi o caso de Jung, que veio se juntar a Freud nos primórdios da criação do movimento psicanalítico, sendo acolhido por este com grande entusiasmo e com a esperança de que aquele seria de fundamental importância para que se fizesse a distinção entre a Psicanálise e o Judaísmo, pois Jung não era Judeu, ao contrário de muitos outros dos seus primeiros colaboradores. A partir de então, muitos foram os encontros, os estudos, a profícua correspondência ocorrido entre ambos, culminando inclusive com a viagem histórica que Jung acompanharia Freud aos Estados Unidos da América, onde este anunciou que viera trazer à peste à comunidade acadêmica americana, termo pelo que designou à sua descoberta.