A mudança de posição do lugar da voz na clínica inaugurou a psicanálise. A promoção da escuta dos pacientes e o reconhecimento do valor de sua fala sobrepondo-se à voz do saber médico estabeleceram a prática psicanalítica como tal. Essa inovação pôde acontecer porque Freud ouviu e foi dócil à histérica. Ao resistir à hiponse, elas o obrigaram a escutá-las. Ele, ao se calar, fez emergir a voz tomando-a como objeto pulsional e oferecendo-lhe o campo enigmático do silêncio necessário para que o dito de suas pacientes pudesse modular um dizer. Falar e escutar, circuito que evidencia os efeitos do dito sobre o dizer segundo um hiato em que situamos o sujeito e as bordas de seu gozo.