Mueda, Memória e Massacre (1979), de Ruy Guerra, primeira longa-metragem de ficção de Moçambique independente, produzida pelo INC, o Instituto Nacional de Cinema moçambicano, aborda um acontecimento ligado à história da descolonização, o Massacre de Mueda (1960). Apesar da classificação genérica do filme, a estabilização cinematográfica e histórica da memória do Massacre de Mueda advém do registo documental de uma reconstituição teatral popular do acontecimento. A construção diegética e formal da obra de Ruy Guerra releva de uma complexa concepção intertextual da narrativa histórica e do objecto fÃlmico enquanto forma de representação da história, concepção que permite questionar a validade das categorias operativas de documentário e de ficção e que outorga novos e inéditos sentidos aos procedimentos cinematográficos de reconstituição. Coincide o nascimento de um paÃs com o nascimento da sua imagem cinematográfica ou, dito de outra forma, com o nascimento das suas ficções cinematográficas?