O presente artigo busca discutir a capacidade e o compromisso do governo pós-Mugabe no Zimbábue com a tarefa de reconciliar os zimbabuenses e curar as feridas históricas do país, assim como seu legado assombroso de violência com motivações políticas. Após a transição de governo assistida pelos militares em novembro de 2017, a retórica do novo presidente Emmerson Mnangagwa, assinalou uma rejeição à violência e à política agressiva do seu antecessor, o presidente de longa data Robert Mugabe. Apesar de ter sido um importante facilitador do Presidente Mugabe desde a luta pela libertação nacional na década de 1970 até a era pós-colonial, o presidente Mnangagwa reapresentou a si mesmo como um político transformador, que queria desescalar as tensões políticas domésticas por meio da paz e de uma maior inclusão na gestão dos assuntos nacionais. Ele também instou seus compatriotas a esquecerem as dores da violência política do passado e seguirem em frente sob o slogan inclusivo de unidade, paz e desenvolvimento. Apesar dessa retórica conciliatória, ainda que pautada pela amnésia histórica, a qual tentou unificar os grupos políticos opositores do país, o governo comandado por Mnangagwa, popularmente conhecido como a “Nova Dispensação”, perpetuou a brutalidade da era Mugabe de violência, sequestros e desaparecimentos forçados de opositores políticos. Assim, o artigo argumenta que a mudança implícita no governo da Nova Dispensação representou um gesto populista, visto que o Zimbábue continuou a promover a impunidade diante das situações de violência instigada pelo Estado contra opositores políticos, situações marcadas pelo silenciamento e pelo negacionismo governamental
This article attempts to audit the capacity and commitment of Zimbabwe’s post-Mugabe government to reconcile Zimbabweans and heal the country's historical wounds and haunting legacies of politically motivated violence. Following the November 2017 military-assisted transition, President Emmerson Mnangagwa’s newfound rhetoric signaled a rejection of the violence and combative politics of his predecessor, the long-serving President Robert Mugabe. In spite of having been a key enabler to President Mugabe from the Zimbabwean liberation struggle days in the 1970s to the postcolonial era, President Mnangagwa re-presented himself as a transformative politician who wanted to deescalate domestic political tensions by calling for peace and inclusivity in the management of national affairs. He also urged his fellow citizens to disregard the politically motivated pains of the past and collectively move on under the all-embracing triadic national banner of unity, peace and development. In spite of this conciliatory, though amnesia-riven rhetoric, that sought to unify the country’s competing and antagonistic political constituencies, in reality, the Mnangagwa-led government, popularly defined as the New Dispensation, perpetuated the high-handed Mugabe era tactics of violence, abductions, and enforced disappearances against political opponents. It is therefore argued that the changeover implied in the ideal of a New Dispensation amounted to sheer populist gesturing because Zimbabwe has largely remained enmeshed in the impunity and appeasement gridlock of state-instigated spasms of violence against political opponents, interspersed with official silences and denialism