O presente artigo consiste na análise dos discursos que circulam nos filmes de ficção científica, com ênfase nas noções de ambiente, disciplinaridade, neutralidade e salvacionismo da Ciência. Esses discursos, em suas várias esferas sociais e condições de produção, se manifestam nas relações de ensino e aprendizagem da educação em ciências. A partir da vertente francesa da Análise de Discurso, analisamos a materialidade discursiva dos filmes Interestelar (NOLAN, 2014) e Perdido em Marte (SCOTT, 2015). A escolha dessas duas obras para análise se deve à grande popularidade de ambos, mas principalmente por compartilharem as principais categorias de significação elencadas em nosso recorte discursivo (ambiente, disciplinaridade, neutralidade e salvacionismo da Ciência), ou seja, os filmes dão circularidade a discursos congruentes, consequentemente materializando determinadas ideologias. Muitas vezes, os filmes de ficção científica propagam discursos de uma ciência ideal, isto é, ocultam valores, preconceitos e ideologias, sobretudo os fatores de ordem social, ambiental e econômica. Tais discursos constroem realidades e acabam fundamentando práticas. Nossas análises indicam a necessidade de uma educação científica e ambiental crítica que problematize discursos presentes não só em filmes, mas em outros meios e espaços de comunicação e significação. Os filmes de ficção científica possuem grande potencial no contexto do ensino das ciências, não somente enquanto mobilizadores da criticidade, mas de um modo mais amplo: as obras de ficção são formas de significação e de mediação que, quando trazidas para o campo pedagógico, potencializam a produção de sentidos para o conhecimento científico, além de ampliar a formação cultural dos sujeitos.
This paper consists of discourse analysis of science fiction movies, with emphasis on the notions of environment, disciplinarity, neutrality and salvationism of Science. These discourses, in their various social spheres and conditions of production, are manifested in the teaching and learning relations of science education. We analyze the discursive materiality of the movies Interstellar (NOLAN, 2014) and The Martian (SCOTT, 2015) from the French side of Discourse Analysis. The choice of these two works for analysis is due to the great popularity of both, but mainly for sharing the main categories of meaning listed in our discursive clipping (environment, disciplinarity, neutrality and salvationism of Science), that is, films give circularity to congruent speeches, consequently materializing certain ideologies. Science fiction movies often propagate discourses of an ideal science, conceal values, prejudices and ideologies, especially social, environmental and economic factors. Such discourses build realities and end up grounding practices. Our analyzes indicate the need for a critical scientific and environmental education that problematizes discourses present not only in films but also in other media and spaces of communication. Science fiction movies have a great potential in the context of science teaching, not only as mobilizers of criticality, but in a broader way. Sci-Fi is a form of signification and mediation that, when brought to the pedagogical field, enhances the production of meanings for scientific knowledge, in addition to broadening the cultural formation of subjects.