Em face dos acontecimentos recentes, lembrar de Joseph K. e seu Processo é inevitável. Em determinado momento da trama de Kafka, K. vai ao encontro de um contato, Titorelli, que – ficou sabendo – poderia ajudá-lo a agilizar seu Processo, sobre o qual não possuía qualquer informação. Ao chegar ao local, em determinado momento do diálogo, K. depara-se com um quadro, encomendado ao pintor Titorelli pelo próprio Tribunal – quase onipresente, onisciente e, ao mesmo tempo, sorrateiro e inacessível. A pintura retratava, como pareceu em um primeiro momento, a deusa da Justiça. Então, questiona K.: “mas vejo asas em seus calcanhares e ela não está em plena corrida?” Responde o pintor: “é que se trata de uma simbiose entre a deusa da Justiça e a deusa da Vitória”. Sorrindo, K. retrucou com delicadeza: “a Justiça precisa estar em repouso, senão a balança poderá oscilar e um veredicto justo é impossível”.