Atualmente, cobra-se do ensino de graduação em Odontologia a sua adequação às Diretrizes Curriculares Nacionais para a área, como de resto vem ocorrendo com toda a educação superior brasileira. No caso da formação odontológica, as transformações no perfil profissional do egresso são desejadas, seja para atender às diretrizes, seja para responder ao esgotamento do seu atual modelo, voltado à clínica privada em um mercado cada vez mais saturado para os consultórios particulares. Urge enfrentar o paradoxo de uma profissão tão técnica e cientificamente evoluída quanto elitizada, mas com pífios resultados na abrangência social de sua cobertura. Este artigo apresenta os resultados parciais de uma pesquisa de doutorado, do tipo estudo de caso, realizada com professores do Curso de Odontologia de uma universidade federal brasileira. O objetivo foi analisar as aproximações e os distanciamentos das práticas desenvolvidas pelos docentes em relação à formação preconizada pelas diretrizes, que defendem a formação de profissionais capazes de suprir as demandas por saúde bucal de toda a população, e não apenas daquela parcela que pode pagar pelos serviços. Os resultados demonstraram a persistência da ênfase na formação técnico-científica, da precariedade na humanização profissional e da tendência à especialização precoce, características que distanciam o perfil do egresso do compromisso com as populações economicamente desfavorecidas. Diante disso, reciclagem profunda e adaptações indispensáveis serão necessárias para que o corpo docente dos cursos de Odontologia deixe de ensinar como foi ensinado e consiga se transformar no conjunto de educadores capazes de formar profissionais com perfis distintos dos seus próprios.